22 outubro, 2009

o convite (reeditado)


Não me importa o que fazes para sobreviver. Quero saber qual a tua dor e se tens coragem de encontrar o que o teu coração anseia.

Não me importa saber a tua idade. Quero saber se arriscarias parecer um louco por amor, pelos teus sonhos, pela aventura de estar vivo.

Não me importa saber que planetas estão quadrando a tua lua. Quero saber se tocaste o âmago da tua tristeza, se aprendeste com as traições da vida, ou se te omitiste por medo de sofrer.
Quero saber se consegues sentar-se com dores, minhas ou tuas, sem te mexeres para escondê-las, diluí-las ou fixá-las.

Quero saber se podes conviver com a alegria, minha ou tua, se és capaz de dançar com selvajaria e deixar o êxtase preencher-te até o limite, sem lembrares as tuas limitações de ser humano.
Não me importa se a história que me contas é verdadeira.
Quero saber se és capaz de desapontar o outro para ser verdadeiro contigo próprio, se podes suportar a acusação da traição e não trair a tua própria alma.
Quero saber se podes ser fiel e consequentemente fidedigno.

Quero saber se consegues reconhecer a beleza mesmo que não sejam bonitos todos os dias, e se podes perceber a presença de Deus na tua vida.
Quero saber se podes viver com as falhas, tuas e minhas, e ainda estar de pé na beira do lago, e gritar para o prateado da lua cheia. "Sim"!

Não me importa saber onde moras ou quanto dinheiro tens.Quero saber se consegues levantar-te depois de uma noite de pesar e desespero, exausto, e fazer o que tem de ser feito para as crianças.

Não me importa saber quem és, ou como vieste aqui parar. Quero saber se estarás ao meu lado no centro do fogo sem recuar.

Não me importa saber onde, o quê, ou com quem estudaste. Quero saber o que sustenta o teu interior, quando tudo o resto desaba.

Quero saber se consegues estar só contigo próprio, e se verdadeiramente gostas da companhia que carregas nos teus momentos vazios.

Oriah Mountain Dreamer (Um ancião nativo americano)

12 outubro, 2009

10 lições para uma nova economia


Transacção perfeita: Ternura, só porque sim!

As lições não são minhas mas de um académico português, autor do conceito "Dharma Marketing". Chama-se Paulo Vieira de Castro e é Director do Centro de Estudos Aplicados em Marketing, no Instituto Superior de Administração e Gestão - Porto.
A visão dele para uma nova economia é mais do que uma sequência de propostas. Representa uma mudança de paradigma e uma viragem que precisamos defender e cuidar através das nossas próprias escolhas.

Como os cépticos nunca mudaram nada, aos que sonham e acreditam, como o Paulo, a minha enorme admiração.

Conheça as 10 Lições para Uma Nova Economia aqui

10 outubro, 2009

Ganância

Não costumo escrever assim. Hoje, no entanto, é urgente. Diz-se que a ganância é uma forma desenfreada de egoísmo, que é avareza, que é açambarcamento voraz, que é coisa de gente que não olha a meios, que não contempla o prejuízo ou destruição do outro. É tão medonho o sentido e significado da ganância que não existe no mundo um único homem capaz de dizer de si próprio: “sou ganancioso”. Porém, nunca a ganância esteve tão na moda. Nunca a ganância foi tão sublimada. Eufemismos como “desenvolvimento” e “progresso” tomaram o lugar da ganância e revestiram-na de contornos benéficos, senão mesmo essenciais ao bom andamento do mundo.
Na senda do lucro, do pequeno ou grande lucro, o que importa é ser um vencedor, o que importa é “criar riqueza”, sendo que riqueza é tão só dinheiro (ou outro valor inscrito no cógido de valores reconhecido e validado pela maioria) ganho e consumido repetidamente para fazer mais dinheiro-valor. Mas nada disso é grave, porque se trata de investir e o investimento também está na moda. Investe-se naquilo que representa uma vantagem. Tanto melhor é o investimento quanto maior for a vantagem. E quem é esperto, sabe investir. Ser esperto, ser competitivo é uma qualidade essencial. Ser ético, ser justo, ser honesto, ser generoso é ser parvo. Ser correcto faria estagnar a economia. Ninguém perderia, mas também ninguém poderia lucrar. O estabelecimento do valor justo e equitativo nunca será possível numa sociedade orientada para o lucro.
Basta olhar para o estado miserável em que está o nosso planeta para perceber que a ganância concorre sem paralelo com a mais perigosa bactéria ou vírus que ameaça as nossas vidas, a nossa sanidade, a nossa saúde, a nossa dignidade. Neste planeta, sejamos honestos, ninguém morre de fome por falta de alimento. Também não é verdade que todos os dias morram milhares de crianças vítimas de diarreia, nem é exacto considerar que o desaire de uma sociedade é o desemprego ou o subdesenvolvimento. A Terra definha, as pessoas definham vítimas de ganância.
Ensinaram-me na escola que o sentido do progresso era a melhoria das condições e qualidade de vida das pessoas. Que a tecnologia e a ciência nos proporcionariam uma vida melhor, que a produção em massa resolveria os problemas da escassez. E tudo isso poderia ser verdade. Tudo isso é quase verdade. Há alimento quanto baste, há maquinaria quanto baste, há energia quanto baste. Há, sabemos todos, conhecimento e capacidade quanto baste para que nenhuma criança, hoje, morra de diarreia. Há soluções quanto baste para que não se abatam florestas. Há riqueza quanto baste para que não se escravizem homens e mulheres. Há condições quanto baste para nenhum de nós tenha de deixar de ter tempo ou paciência para brincar com os nossos filhos ou cuidar dos nossos velhos. Há. Haveria, se não fossemos parte deste tecido infectado pela ganância que nos corrompe e aniquila a vontade, que nos turva a visão, que nos faz reféns de uma dívida que é de todos e não é de ninguém. Alguém investiu em nós. Alguém espera de nós um retorno qualquer em forma de lucro. E todos temos de dar lucro. Quem não dá lucro é um fracasso. Quem não dá lucro é descartável, quem não dá lucro não tem valor, porque simplesmente não dá nada a ganhar. A ganância caiu-nos no goto. É um lugar-comum. Ser agente e vítima de ganância está tão incorporado na mecânica desta sociedade doente que se tornou absurdo considerar que deveria ser diferente, como se esta falta de ética, de justeza, de rectidão tivesse caído sobre nós, vinda de um qualquer outro planeta. Pior: como se não tivéssemos escolha. Fazer a diferença é fazer diferente, é ser diferente. Pode não ser o caminho da multidão, mas é o caminho.

Edite Espadinha

09 outubro, 2009

anoiteci



De um momento para o outro, a noite aconteceu-me. Sentia-a debaixo da língua como uma palavra pressentida, indefinida. Esperava por ela, como quem espera pelo vento e pela chuva no Outono.
Anoiteci junto da árvore onde guardo o meu coração. Permaneço ligeiramente inerte até me acomodar na escuridão. É impossível escapar-lhe. Não convém escapar-lhe. Quem escapa à noite, escapa ao dia.