26 maio, 2006

o convite


Não me importa o que você faz para sobreviver. Quero saber qual a sua dor e se você tem coragem de encontrar o que o seu coração anseia.

Não me importa saber sua idade. Quero saber se você se arriscaria parecer com um louco por amor, pelos seus sonhos, pela aventura de estar vivo.

Não me importa saber quais planetas estão quadrando sua lua. Quero saber se você tocou o âmago de sua tristeza, se as traições da vida lhe ensinaram, ou se omitiu por medo de sofrer.

Quero saber se você consegue sentar-se com as dores, minhas ou suas, sem se mexer para escondê-las, diluí-las ou fixá-las.

Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se pode dançar com selvajaria e deixar o êxtase preenchê-lo até o limite sem lembrar de suas limitações de ser humano.

Não me importa se a estória que você me conta é verdadeira.

Quero saber se você é capaz de desapontar o outro para ser verdadeiro para si mesmo, se pode suportar a acusação da traição e não trair sua própria alma.

Quero saber se você pode ser fiel e consequentemente fidedigno.

Quero saber se você pode enxergar a beleza mesmo que não sejam bonitos todos os dias, e se pode perceber na sua vida a presença de Deus.

Quero saber se você pode viver com as falhas, suas e minhas, e ainda estar de pé na beira do lago e gritar para o prateado da lua cheia.... "Sim"!

Não me importa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem.

Quero saber se você pode levantar depois de uma noite de pesar e desespero, exausto, e fazer o que tem de fazer para as crianças.

Não me importa saber quem você é, ou como veio parar aqui. Quero saber se você estará ao meu lado no centro do fogo sem recuar.

Não me importa saber onde, o que, ou com quem você estudou. Quero saber o que sustenta o seu interior quando todo o resto desaba.

Quero saber se você pode estar só consigo mesmo e se verdadeiramente gosta da companhia que carrega em seus momentos vazios.

Feliz caminhada a todos...

Desejo que encontrem a coragem e sabedoria para serem verdadeiros consigo mesmos.
Obrigado por permitir-me partilhar um presente...

Oriah Mountain Dreamer (Um Ancião Nativo Americano)


Bom fim-de-semana

24 maio, 2006

contas ao caminho



Nas terras por onde andei

Nas terras por onde andei
Vi salgueiros inclinados sobre os lagos.
Quando choravam a água subia,
quando bebiam a água baixava.
Os salgueiros podem fazer tudo isso
Pois têm raízes profundas

Nas terras por onde andei
Inclinei-me para a água,
para o abismo e para as estrelas
com raízes bem agarradas à terra.

autor: chucho, o homem do farol






na noite dos dias,
há um farol chamado coração
que guia loucos e aventureiros

23 maio, 2006

morte anunciada

Achei-me no túmulo,

Sobre a Pedra.

Olhei-me,

Defunta de mim própria, sorri, tão grata.

Aprendi a amar a Morte.

Nekhbet

"Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá sozinho; mas, se morrer, dará muitos frutos"

João: 12,2

19 maio, 2006

curso natural


foto daqui

O GUARDA-RIOS

É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós

in Balas de Pólen, Jorge de Sousa Braga, edições quasi

18 maio, 2006

limpeza



Certas emoções quando sobem, saem como vómitos.
Em qualquer dos casos, bem vistas as coisas, por mais desagradável que seja
trata-se do reconhecimento daquilo que estava podre ou era indegesto e, se expelido,
promove a limpeza interior e a recuperação do equilíbrio e bem-estar.

Há apenas que ter o cuidado de não vomitar em cima de ninguém o veneno que abrigámos cá dentro!


Como me disse uma vez uma sábia, a verdade não tem de justificar nada, apenas esclarecer.

A água limpa e a verdade clarifica. Claro como água!

17 maio, 2006

problemas de visão


Segundo um estudo sociológico recente, encomendado pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, metade do Portugueses vê mal!

“55,8% dos inquiridos têm problemas de visão, sendo que 43,6% têm Miopia [dificuldades em ver ao longe], 24,2% sofrem de Hipermetropia [dificuldades em ver ao perto] e 18,7% Astigmatismo [visão desfocada].”



Desconfio que ... é a visão em geral e em particular...


Conversa entre sr. Patrão e sr. Empregado

Sr. Patrão – Pois é sr. Empregado... isto não está nada bem. Este ano não vamos poder dar aumentos a ninguém.

Sr. Empregado - ...

Sr. Patrão – A situação da empresa não está boa. Além de não termos tido lucro, ainda tivemos prejuízo... a empresa está a atravessar uma grave crise...

Sr. Empregado
- ...

Sr. Patrão – A economia nacional está no estado em que está e isso reflecte-se nas empresas...
Gostava muito de comunicar-lhe um aumento, mas infelizmente este ano já não vai ser possível... quem sabe no próximo ano...

Sr. Empregado - ...

Sr. Patrão – Temos de continuar a semear! O sr. Empregado é um funcionário que tem dado provas do seu valor, e um dia, quando ultrapassarmos esta crise, irá com certeza colher os frutos do seu empenho...

Sr. Empregado - ...

Sr. Patrão – Felizmente estamos a conseguir evitar fazer cortes no pessoal... e, olhe... apesar de estas não serem as melhores notícias, a verdade é que é uma grande sorte não ter de estar aqui a tratar do seu despedimento... Nesta altura, tendo em conta o estado do país e da empresa, é muito bom poder dar-lhe esta notícia: não vou dar-lhe um aumento, mas também não vou despedi-lo...

Sr. Empregado – Sim, sr. Patrão... eu sei que tenho imensa sorte em ter este emprego!

Sr. Patrão – Estamos a passar por uma crise terrível! Terrível!

Sr. Empregado – Pois...

Sr. Patrão – Mas estou confiante que com o empenho de todos, e sobretudo com o seu, este mau momento será ultrapassado!

Sr. Empregado - ...

Sr. Patrão – Conto consigo para nos ajudar! Conto com o seu entusiasmo e motivação. Tenho a certeza que, juntos, daremos a volta a isto!

Sr. Empregado - ...

Sr. Patrão – Vamos lá trabalhar com garra, certo?!

Sr. Empregado – Sim sr. Patrão!


Entretanto, em outro gabinete, numa outra empresa...

Sr. Empregado
– Pois é sr. Patrão isto não está nada bem. Este ano não vou poder trabalhar como até aqui... vou ter de abrandar...

Sr. Patrão – Como?

Sr. Empregado – A minha situação piorou. Além de não ganhar mais, tenho ainda mais despesas... A minha vida está a atravessar uma grave crise... e estou a ficar cada vez mais endividado...

Sr. Patrão – ...

Sr. Empregado – O país está a passar por uma grave crise e o mesmo acontece na minha vida e na minha família...

Sr. Patrão – Estarei a ouvir bem? o Sr. Enlouqueceu?

Sr. Empregado – Hoje, o que ganho chega para poder vir trabalhar... os meus filhos passam 12 horas num colégio e pago mais de metade do meu ordenado só par poder comparecer ao serviço... A minha mulher está doente... úlcera nervosa – baixas, médicos, medicamentos estão a dar cabo do nosso orçamento que já estava a derrapar... os meus filhos estão rebeldes, exigentes e insuportáveis... a minha vida está a passar por uma crise terrível. Terrível!

Sr. Patrão – ...

Sr. Empregado – Estou muito cansado... não tenho ânimo para nada!
Os meus filhos precisam de mim e falta-me paciência para tudo: falar, ajudá-los nos estudos, brincar então nem se fala...

Sr. Patrão - ...

Sr. Empregado – A minha mulher está tão mal... deixou de rir... deu cabo dos nervos e do estômago no trabalho... a vida está muito difícil e vale tudo para agarrar um emprego... o stresse deu cabo dela... está um frangalho... eu não tenho tido muita paciência também, confesso...

Sr. Patrão - ...

Sr. Empregado – Mas estou confiante que isto vai melhorar. Conto com o seu empenho para ultrapassar esta crise. Peço-lhe que encare isto como um investimento... é preciso semear para colher depois e, garanto-lhe, um dia há-de colher os frutos do seu empenho...

Sr. Patrão
– Grrrrrrrrrrrrrr

Sr. Empregado – Eu poderia estar a dizer-lhe que já não posso contar mais consigo... mas não! O sr. já revelou que é um patrão válido! Tenho a certeza que vai dar-me um aumento, reduzir a pressão no trabalho e juntos vamos ultrapassar esta crise!

Sr. Patrão – Grrrrrrrrrrrrrrrr

Sr. Empregado – O seu empenho é fundamental! Em coisa de um ano ou dois eu já estarei com a minha vida equilibrada e nessa altura vou trabalhar com muita alegria e entusiasmo! Verá que, juntos, daremos a volta a isto!


16 maio, 2006

resultado da pesquisa



Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que devia ser, já se matou em vida: é um suicida de pé. A sua existência consistirá numa perpétua fuga da única realidade que era possível.
José Ortega y Gasset

Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser.

Goethe

Não é livre quem não tenha obtido domínio sobre si mesmo.
Demófilo

A liberdade, ao fim e ao cabo, não é senão a capacidade de viver com as consequências das próprias decisões.
James Mullen

Prefiro morrer de pé a viver sempre ajoelhado.
Ernesto "Che" Guevara

Não nos tornamos livres por nos negarmos a aceitar algo superior a nós, mas por aceitarmos aquilo que está realmente por cima de nós.

Goethe

Escolher é sacrificar. Que importa sacrificar algo grande em troca de algo ainda maior?
Autor desconhecido

Liberdade significa responsabilidade, É por isso que tanta gente tem medo dela.

George Bernard Shaw

Há homens que lutam um dia e são bons; Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis.
Bertold Brecht

A verdadeira liberdade consiste somente em fazer o que devemos, sem sermos constrangidos a fazer o que não devemos.
Jonathan Edwards

Deixe o cavalo solto... se voltar ele é seu, se não voltar, nunca foi seu.
Autor desconhecido

O escravo tem um só senhor; o homem ambicioso tem tantos quantas as pessoas que possam contribuir para o incremento da sua fortuna.
Jean de la Bruyére

O primeiro passo para conseguirmos o que queremos na vida é decidirmos o que queremos.
Ben Stein

retirado daqui

12 maio, 2006

entrega



Ouvi, pelo ouvido direito, o rumor das águas.
Depois pelo esquerdo.
Soube assim das marés que se agitam.

Evaporei-me.
O caudal encheu os úteros,
onde todas as crianças se fazem a si mesmas.

Deu-se o contágio em todas as coisas.
Estão puros e sagrados,
todas as fontes, lagos, riachos, rios e oceanos.
E correm fora e correm dentro,
Lavam e regam as paredes das veias

e o pano das vestes de luz.

Encaminham-se os peregrinos ao lugar do banho divino.
Que a água os leve ao sítio da desova,
E que chova desse líquido que mata a grande sede.


Ouvi de toda a parte a torrente de apelos.
Não sei de pedidos nem de promessas.

Trago a lua cheia no ventre.


11 maio, 2006

hoje



aconteceu-me... a página em branco

09 maio, 2006

Resposta, responsabilidade e natureza humana

Depois de ler os comentários ao post anterior, resolvi responder através de um novo post, o qual visa fazer a ligação e integração das várias posições assumidas pelo comentadores. Diversas e até divergentes, as várias opiniões são, na minha óptica, partes inteiras de um todo, todo esse que será também uma parte inteira de outro todo maior: uma visão verdadeiramente universal.

Liberdade ou anarquia implicam necessariamente responsabilidade. Responsabilidade deriva de resposta, e portanto, é a forma como respondemos que caracteriza e, em última análise, qualifica a nossa intervenção no mundo. Está, por isso, subjacente à nossa responsabilidade a resposta que escolhemos dar em cada momento das nossas vidas.



Não somos como o cão de Pavlov. Aceitar que a nossa resposta é mecânica e insuperável é demitirmo-nos do nosso poder de escolha e, seja ela qual for, somos os únicos responsáveis por ela, mais ninguém. O Direito tabela a nossa margem de intervenção numa esfera de comportamento legal e apropriado ou, por outro lado, exclui-nos para o âmbito da ilegalidade ou do não adequado. O Direito é, no entanto, fruto da valoração que atribuímos às escolhas, e essa valoração é feita por nós. O Direito responde, por conseguinte, a necessidades ou aspirações, as quais se inscrevem numa época e num contexto social e cultural. São por isso não-fixas e podem, acredito, tornar-se adquiridas, como é hoje, por exemplo, o direito da mulher ao voto. Quando falo de Ordem, falo de uma Ordem Universal (supratemporal e não-local), a qual acolhe a diferença, mas vai além dela. Não discuto valores, se são certos ou errados, pois isso depende da avaliação e valoração de cada um. A valoração é um produto de cada indivíduo e do grupo. A minha opinião é, também ela, o valor que lhe dou, mais nada.



Somos livres de pensar ou desejar o que quisermos, inclusive, a morte de alguém, mas somos condenados se o fizermos. Somos livres de escrever, por exemplo, livros, músicas ou realizar filmes que exploram a violência gratuita, que legitimam a vingança ou sublimam técnicas de roubo. No entanto, se o fizermos e formos apanhados seremos presos. Somos livres de desenvolver técnicas de informação (?!) que exploram e promovem emoções como o ódio, a vingança ou o racismo, e somos livres de consumi-las. Pergunto: então, a liberdade do pensamento ou desejo não deveria estar também sujeita a uma responsabilização? Acho que sim, mas aí, onde o Direito não pode nem deve regular, deve regular e educar (como em tudo o resto) a consciência individual, não como censura, mas como introspecção séria e potência transformadora, a qual através do conhecimento de si próprio promove a alteração de quadros de pensamentos e formas de sentir.



Na minha opinião, nada é intrinsecamente bom ou mau, certo ou errado, correcto ou incorrecto. A valoração decorre do rótulo que atribuímos a cada coisa ou acção e foi nessa medida que Nietzsche interpelou o indivíduo - à emancipação do Homem está associada a criação dos seus próprios valores e por conseguinte das suas escolhas, sejam elas no plano mental, afectivo ou da acção. Se não precisamos do Direito para pensar e sentir, porque precisamos dele para delimitar as nossas acções? Não estaremos a subestimar o poder dos nossos pensamentos e emoções? No entanto, são estes os catalizadores que assistem às nossas acções e a todas as nossas escolhas - activas ou passivas, todas acarretam consequências para nossa própria vida e dos outros. A "regeneração humana", como descreve o José António, apela a uma intervenção individual e pessoal sobre esse domínio e, concordo, é aí que se começa verdadeiramente a mudar o mundo - no centro da questão, isto é, no interior de cada um de nós, sendo que cada um de nós é único responsável e o grande arquitecto da sua própria transformação.



Se por um lado fazemos parte de uma ordem natural, convenhamos, não somos tal qual os outros animais. Temos consciência da nossa inteligência, de nós próprios e daquilo que nos rodeia, inclusive, muito para além do nosso espaço e tempo. Problematizamos, discutimos e projectamos realidade ou realidades. Formamos e deformados o mundo que nos rodeia e a nós próprios. Temos ferramentas que nos permitem guardar memória e elaborar sobre ela. Temos a capacidade de antecipar o futuro, de esperar e de sonhar. É a consciência da nossa consciência que acresce o nosso poder de intervenção dentro e fora de nós. O nosso sistema nervoso central, a nossa mente, e todas as nossas habilidades para observar, registar, pensar, problematizar e sistematizar conferem-nos características e particularidades que nos diferenciam das outras espécies. A nossa maior maravilha - a possibilidade de indagar e conhecer - serve qualquer propósito, seja ele criar ou destruir. Neste sentido, o exercício da liberdade é tão só o livre arbitrium que assiste cada a escolha.



Nenhum outro animal pode criar ou destruir tanto quanto nós. Somos conscientes do nosso poder. Temos o dom do conhecimento, que não sendo bom nem mau, permite-nos, consoante as nossas escolhas, criar ou destruir. O conhecimento fica na antecâmara da sabedoria e, aí sim, em consciência-consciente podemos dar-nos conta, sem pruridos, do nosso poder e usá-lo independentemente do Direito vigente. A responsabilidade é parceira da liberdade. A responsabilidade é, por isso, indissociável da escolha e a escolha está intimamente relacionada com a consciência que temos daquilo que sabemos e podemos fazer. É por isso que a minha esperança é imortal - é inevitável que não tenhamos individualmente ou em grupo que depararmo-nos com o resultados das nossas escolhas. Não aspiro mudar o mundo, mas sei que posso transformar o meu próprio. Quer o perceba, quer não, as minhas escolhas (pensamentos, sentimentos, palavras e acções) ditam rumo da minha vida e interferem na vida daqueles que me rodeiam. Essa consciência responsabiliza-me, antes de mais, por mim, mas também pela marca que deixo no outro.



Concordo inteiramente com a observação da Teresa Durães, quando refere a violência que rege as leis da natureza. Mas, não posso deixar de dizer que, se nos comportássemos de tal forma, ainda assim, seríamos menos destrutivos do que temos sido até aqui. Os animais matam e de deixam morrer por imperativos de sobrevivência. Mas nenhum seria ou é capaz de destruir um floresta inteira por vingança, inveja ou ganância. Nenhum animal tortura e se regozija por isso. Nenhum animal seria capaz de, a pretexto de altíssimos valores, (que na minha opinião nada mais são do que egoísmo ou apego) prolongar artificialmente a vida de outrem, mesmo que esta seja apenas e só sofrimento. Da mesma forma que é capaz de sacrificar, verifica-se que um animal é igualmente capaz de defender as suas crias e o grupo. Até hoje, nenhuma zebra, por exemplo, fez escravas as suas companheiras para enriquecer. Nenhuma gazela criou latifúndios de vegetação, para vender depois no mercado da selva, a preço inflacionado. Nenhum leão dominante, que tenha morto as crias de um leão velho e vencido, desatou a matar a despropósito outros clãs de felinos. A luta pela sobrevivência regula-se por comportamentos brutais, mas limitados pela necessidade e capacidade destrutiva, muitíssimo menor do que a humana. O mesmo não podemos dizer sobre os motivos do (ainda pouco) humano Homo Sapiens, entre eles a ganância, o ódio, a inveja, a vingança ou o desprezo pelo outro.

O Direito é uma necessidade. Quanto mais não seja, só por isso, por ser necessário, é um sinal de insuficiência. Como referiu a Raquel, se é preciso proibir, por exemplo, a criação de organizações “perigosas” à democracia (em Portugal), é porque não nos sentimos seguros, nem de nós próprios, nem dos outros. “Os seguros são para os inseguros”, disseram-me um dia, e concordo. Se tivéssemos confiança em nós e nos outros não precisaríamos deste tipo de “seguros”. Pode dizer-se: “pois, mas a natureza humana é má... o ser humano é mau por natureza”. Não acredito. Não aceito sequer. Admito que nos temos comportado muito mal, mas isso não é o mesmo que dizer "somos maus".




Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona (354-430), salvo todo o seu mérito, foi, na minha opinião, um dos mais eloquentes contribuintes para esta diabolização da natureza humana. Agostinho, antes de se entregar à contemplação, filosofia e teologia e de enveredar pela vida monástica, fez um percurso muito pouco virtuoso. Viveu uma vida mundana e muito sensual. Essa experiência foi definitiva para estruturação do moralismo que pregou. A sua vivência (que deduzo pouco ou nada terá tido que ver com o amor) resultou em concepções verdadeiramente detractoras da mensagem de Cristo. Santo Agostinho desenvolveu e vendeu muito bem a tese do pecado original e disse com todas as letras que parir um filho é um acto nojento, que a mulher traz à luz em pecado e que um recém-nascido vem conspurcado pelo acto pecaminoso e vergonhoso da concepção. Segundo Agostinho já nascemos emporcalhados e maus. Ao contrário de Cristo, que pregou sermos filhos e agentes do amor, Santo Agostinho reduziu o indivíduo a uma criatura de origem vil e vergonhosa, e voltou a pôr algemas onde Cristo semeou liberdade: na consciência daquilo que somos. Institui-se o baptismo, sob pena dos “anjinhos” irem parar ao inferno e voltámos “atrás” no processo de emancipação e dignificação da vida humana, sustentada por uma corrente de pensamento, a que não posso chamar outra coisa, se não terrorismo psicológico. É claro que, com isso, a Igreja garantiu gerações de clientela vergadas sob o medo, a vergonha e o terror da punição.



Quer tenhamos consciência disto quer não, e apesar de todos os esforços do período da Renascença, Iluminismo e Moderno ficou-nos incrustado na alma a desconfiança sobre a nossa própria natureza, sobre o papel da mulher, a vergonha do corpo, a negação do prazer e da alegria de viver. Mais: fomos castrados e inibidos do exercício da liberdade/responsabilidade individual pelo justo, natural e feliz curso da nossa vida. Está cá, até hoje, que seremos sempre culpados, que somos sobretudo imperfeitos e que, portanto, a vida, sendo má é com certeza um castigo. Que "andamos cá para sofrer", como quem expia a culpa de ser mal-nascido e fruto da imperfeição, e que devemos aceitar humildemente que nada podemos fazer por nós próprios, a não ser pagar e lamentar por sermos um erro da natureza. Em suma: desconfiamos sempre das coisas boas em nós, nos outros e da vida. As más, essas sim, são consideradas verdadeiras, naturais e, grosso modo, aceites como garantidas.



Arrogo-me o direito de contrariar tudo isto e digo: somos filhos da bondade original. Somos filhos do Amor e não do pecado e estamos impregnados, desde o princípio, não com a maldade mas com o bom em nós. Assim como acreditámos na nossa imperfeição, podemos resgatar a confiança em nós próprios. E, assim como a nossa alegada fraqueza semeou medo, desconfiança e falta de amor-próprio, o resgate da nossa bondade semeará a confiança, o amor, a compaixão e o altruísmo!



E para ti, somos filhos do pecado ou do amor?

Julgo que este post responde a todos os autores dos comentários ao post anterior e que não nomeei no texto. Agradeço a todos a vossa participação e disposição para me ler.
Obrigada!

05 maio, 2006

Anarquia ou Liberdade?



O Direito é um sinal da insuficiência da consciência humana tal como ela está, no estádio em que está. A necessidade de regrar os direitos e deveres do indivíduo, admito, desconcerta-me. Não posso deixar de me sentir desconsertada diante da necessidade de haver Cartas, Tratados e Constituições para lembrar os direitos das pessoas, dos seres. Não deixo de ficar desconcertada por verificar a indispensabilidade de um papel para fixar que o direito à Vida é imperioso, de que as crianças têm o direito de serem amadas ou de que os animais devem ser tratados com respeito.

Reconheço a necessidade de todos estes compêndios de advertência, fixação e veiculação dos direitos e deveres dos indivíduos. Contudo, não deixa de ser desolador constatar que é preciso haver leis que têm de funcionar como lembretes e ao mesmo tempo como dissuasores ou ameaças: não mates, ok? Não roubes, que é feio! Não maltrates, que não é justo! Ou então... bem, serás ser punido com...


Entendo a anarquia não como uma rebaldaria ou ausência de Lei, mas como o exercício da Grande Liberdade. Curiosamente, o Islão (que não é o bicho papão que o Ocidente pinta) continua à espera do Íman, do profeta que libertará seu povo do Livro. O Íman será revelado por Deus e, um dia, quando o Homem for capaz, deixará de precisar desse mesmo Livro para regrar a sua conduta!
Pode ser uma questão de fé, pode chamar-se-lhe utopia, mas acredito: um dia não precisaremos do Direito... bastar-nos-à a nossa Consciência!


A Natureza precisa do Direito? Não!


A Natureza e o Cosmos, e inclusive, o nosso próprio corpo respondem a uma ordem intrínseca que regula per se o seu justo funcionamento. E ninguém pode negar que, sem a intervenção humana, a Natureza retomaria a sua harmonia original.


Esta é a minha anarquia - a da liberdade fundada na Consciência! E repito, tal como escreveu Elisa Lucinda e declamou Ana Carolina: “Minha esperança é imortal... imortal! Sei que não vai dar para mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar para mudar o final!”

E tu, no que acreditas?

04 maio, 2006

"minha esperança é imortal"


foto daqui

só de sacanagem é um poema de Elisa Lucinda, falado por Ana Carolina.

(Não conhecia nenhuma das duas)

Ouvi este poema por sugestão de Lâmina d'Água a propósito disto, e agradeço.

Obrigada! Muito obrigada!

03 maio, 2006

notícia de última hora

Fome mata seis milhões de crianças por ano
UNICEF apela a uma mudança de atitude por parte das potências mundiais

Quase seis milhões de crianças morrem todos os anos devido à fome ou à subnutrição. São números negros divulgados ontem pela UNICEF, que pede às potências mundiais uma mudança de atitude para que seja possível diminuir a mortalidade infantil em todo o Mundo.
03-05-2006 10:24, sic online

Foi através daqui, da ONE, que começou este pequeno gesto de solidariedade para com os povos mais desfavorecidos. E foi através desta Senhora, de nome Maria Árvore, a quem roubei esta frase, que vos dou a ler o seguinte:"Banco Alimentar Contra a Fome", que todos os dias ajuda a colmatar a pobreza e a fome em Portugal e que já a 6 e 7 de Maio próximo estará num supermercado próximo de si, ou então, a APAV – Associação de Apoio à Vítima por apoiar as vítimas de todos os tipos de crimes .Já agora, que não custa nada, passem por aqui se faz favor, e apoiem a velhinha UNICEF, que continua muito coerente com os seus princípios básicos. Ela agradece.Obrigado!

Segui a corrente dando as mãos a:
Jorge Moreira
Ruth Iara
Greentea


visitar The Hunger Site


visitar UNICEF

Deixo o desafio em aberto! Quem vier virá por bem! Obrigada!

02 maio, 2006

O tesouro


Sobre a matéria prima ou quinta essência

“Essa coisa é de ti mesmo que é necessário extrai-la, pois tu és a mina. Foi em ti que Deus criou essa coisa tão notável e, seja qual for o lugar onde estejas, ela está dentro de ti e não te poderá ser arrancada”
Morienus

O tesouro está em ti... o teu caminho traça o mapa, e não o contrário. Segue o teu coração, sede da verdade. Nele reside o Olho - a tua consciência-consciente que ... Cada verdade que despertares em ti é uma pepita de ouro do teu baú.