"Enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual não existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que não é possível recuperar nem nesta vida... nem na futura!"
Soren Kierkegaard
Kierkegaard era um jovem deprimido, uma criatura sem pele, uma mente brilhante e alarmantemente inquieta. Talvez nunca tenha conhecido a natureza do amor. Julgo que não. Suicidou-se. E nem tudo são espinhos, como nem tudo são flores. Ainda assim, não posso deixar de concordar com a questão que coloca a compreensão da natureza do amor no topo dos ganhos ou das perdas. Não se trata de um jogo, com certeza, mas de um mistério, de uma viagem, de uma espantosa e desconcertante descoberta - o amor não é bioquímica, nem hormonas, nem sensações. É uma energia e uma habilidade que não se compadece com a busca da auto-satisfação. Perder a experiência do amor, perder a oportunidade de aprender a jorrar essa energia, de manuseá-la como uma delicada e poderosa poção mágica e extrair dela a derradeira essência da vida é de facto a mais espantosa das perdas. E dá pena que o amor esteja reduzido a uma sensação de prazer ou de desejo que pode ser medido e explicado pela química operada no cérebro. E dá pena ver como marcha o mundo...
Que desperdício seria ter alma para amar apenas cientificamente, ao sabor dos gostos e des-gostos. Que desperdício seria viver apenas para isso, sem reservar como necessário aspirar ao infinito e ao absoluto! De que valeria ter alma, fazer poesia, sermos capazes de coisas tão extraoridárias como sonhar, sorrir, chorar... se não fosse para transcendermos o perímetro da existência e tocar o âmago da vida? Que extraordinária possibilidade e que assombrosa responsabilidade é amar.