Não costumo escrever assim. Hoje, no entanto, é urgente. Diz-se que a ganância é uma forma desenfreada de egoísmo, que é avareza, que é açambarcamento voraz, que é coisa de gente que não olha a meios, que não contempla o prejuízo ou destruição do outro. É tão medonho o sentido e significado da ganância que não existe no mundo um único homem capaz de dizer de si próprio: “sou ganancioso”. Porém, nunca a ganância esteve tão na moda. Nunca a ganância foi tão sublimada. Eufemismos como “desenvolvimento” e “progresso” tomaram o lugar da ganância e revestiram-na de contornos benéficos, senão mesmo essenciais ao bom andamento do mundo.
Na senda do lucro, do pequeno ou grande lucro, o que importa é ser um vencedor, o que importa é “criar riqueza”, sendo que riqueza é tão só dinheiro (ou outro valor inscrito no cógido de valores reconhecido e validado pela maioria) ganho e consumido repetidamente para fazer mais dinheiro-valor. Mas nada disso é grave, porque se trata de investir e o investimento também está na moda. Investe-se naquilo que representa uma vantagem. Tanto melhor é o investimento quanto maior for a vantagem. E quem é esperto, sabe investir. Ser esperto, ser competitivo é uma qualidade essencial. Ser ético, ser justo, ser honesto, ser generoso é ser parvo. Ser correcto faria estagnar a economia. Ninguém perderia, mas também ninguém poderia lucrar. O estabelecimento do valor justo e equitativo nunca será possível numa sociedade orientada para o lucro.
Basta olhar para o estado miserável em que está o nosso planeta para perceber que a ganância concorre sem paralelo com a mais perigosa bactéria ou vírus que ameaça as nossas vidas, a nossa sanidade, a nossa saúde, a nossa dignidade. Neste planeta, sejamos honestos, ninguém morre de fome por falta de alimento. Também não é verdade que todos os dias morram milhares de crianças vítimas de diarreia, nem é exacto considerar que o desaire de uma sociedade é o desemprego ou o subdesenvolvimento. A Terra definha, as pessoas definham vítimas de ganância.
Ensinaram-me na escola que o sentido do progresso era a melhoria das condições e qualidade de vida das pessoas. Que a tecnologia e a ciência nos proporcionariam uma vida melhor, que a produção em massa resolveria os problemas da escassez. E tudo isso poderia ser verdade. Tudo isso é quase verdade. Há alimento quanto baste, há maquinaria quanto baste, há energia quanto baste. Há, sabemos todos, conhecimento e capacidade quanto baste para que nenhuma criança, hoje, morra de diarreia. Há soluções quanto baste para que não se abatam florestas. Há riqueza quanto baste para que não se escravizem homens e mulheres. Há condições quanto baste para nenhum de nós tenha de deixar de ter tempo ou paciência para brincar com os nossos filhos ou cuidar dos nossos velhos. Há. Haveria, se não fossemos parte deste tecido infectado pela ganância que nos corrompe e aniquila a vontade, que nos turva a visão, que nos faz reféns de uma dívida que é de todos e não é de ninguém. Alguém investiu em nós. Alguém espera de nós um retorno qualquer em forma de lucro. E todos temos de dar lucro. Quem não dá lucro é um fracasso. Quem não dá lucro é descartável, quem não dá lucro não tem valor, porque simplesmente não dá nada a ganhar. A ganância caiu-nos no goto. É um lugar-comum. Ser agente e vítima de ganância está tão incorporado na mecânica desta sociedade doente que se tornou absurdo considerar que deveria ser diferente, como se esta falta de ética, de justeza, de rectidão tivesse caído sobre nós, vinda de um qualquer outro planeta. Pior: como se não tivéssemos escolha. Fazer a diferença é fazer diferente, é ser diferente. Pode não ser o caminho da multidão, mas é o caminho.
Na senda do lucro, do pequeno ou grande lucro, o que importa é ser um vencedor, o que importa é “criar riqueza”, sendo que riqueza é tão só dinheiro (ou outro valor inscrito no cógido de valores reconhecido e validado pela maioria) ganho e consumido repetidamente para fazer mais dinheiro-valor. Mas nada disso é grave, porque se trata de investir e o investimento também está na moda. Investe-se naquilo que representa uma vantagem. Tanto melhor é o investimento quanto maior for a vantagem. E quem é esperto, sabe investir. Ser esperto, ser competitivo é uma qualidade essencial. Ser ético, ser justo, ser honesto, ser generoso é ser parvo. Ser correcto faria estagnar a economia. Ninguém perderia, mas também ninguém poderia lucrar. O estabelecimento do valor justo e equitativo nunca será possível numa sociedade orientada para o lucro.
Basta olhar para o estado miserável em que está o nosso planeta para perceber que a ganância concorre sem paralelo com a mais perigosa bactéria ou vírus que ameaça as nossas vidas, a nossa sanidade, a nossa saúde, a nossa dignidade. Neste planeta, sejamos honestos, ninguém morre de fome por falta de alimento. Também não é verdade que todos os dias morram milhares de crianças vítimas de diarreia, nem é exacto considerar que o desaire de uma sociedade é o desemprego ou o subdesenvolvimento. A Terra definha, as pessoas definham vítimas de ganância.
Ensinaram-me na escola que o sentido do progresso era a melhoria das condições e qualidade de vida das pessoas. Que a tecnologia e a ciência nos proporcionariam uma vida melhor, que a produção em massa resolveria os problemas da escassez. E tudo isso poderia ser verdade. Tudo isso é quase verdade. Há alimento quanto baste, há maquinaria quanto baste, há energia quanto baste. Há, sabemos todos, conhecimento e capacidade quanto baste para que nenhuma criança, hoje, morra de diarreia. Há soluções quanto baste para que não se abatam florestas. Há riqueza quanto baste para que não se escravizem homens e mulheres. Há condições quanto baste para nenhum de nós tenha de deixar de ter tempo ou paciência para brincar com os nossos filhos ou cuidar dos nossos velhos. Há. Haveria, se não fossemos parte deste tecido infectado pela ganância que nos corrompe e aniquila a vontade, que nos turva a visão, que nos faz reféns de uma dívida que é de todos e não é de ninguém. Alguém investiu em nós. Alguém espera de nós um retorno qualquer em forma de lucro. E todos temos de dar lucro. Quem não dá lucro é um fracasso. Quem não dá lucro é descartável, quem não dá lucro não tem valor, porque simplesmente não dá nada a ganhar. A ganância caiu-nos no goto. É um lugar-comum. Ser agente e vítima de ganância está tão incorporado na mecânica desta sociedade doente que se tornou absurdo considerar que deveria ser diferente, como se esta falta de ética, de justeza, de rectidão tivesse caído sobre nós, vinda de um qualquer outro planeta. Pior: como se não tivéssemos escolha. Fazer a diferença é fazer diferente, é ser diferente. Pode não ser o caminho da multidão, mas é o caminho.
Edite Espadinha
5 comentários:
"Se podes conservar o bom senso e a calma, num mundo a delirar para quem o louco és tu..."
Beijinhos, esqueci-me, queria-te desejar boa noite :)
Nunca gostei de "ganância" em qualquer das formas de que se reveste - adoro repartir, um vício: dar lucro em bons sentimentos.
Bjinho, olá!
Quero ver este texto escrito por aí nas paredes do mundo... É essencial perceber qual o nosso verdadeiro valor... Afinal o que somos. mercadoria ou amor?
Isabel
:)
somos amor!... às vezes somos também medo... outras, indiferença.
mercadoria nunca!
Beijos
Tem um dia muito feliz
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