25 janeiro, 2006

A Árvore

Certo dia aconteceu-me um momento de magia.
Nesse dia acendeu-se o fio que me ligava às árvores. Um fio, como um filamento luminoso, eléctrico, que acende a teia no cérebro, em milhares de sinapses. Segui-o.
Nessa ligação aconteceu uma união profunda, íntima. Não me juntei à árvore. Entrei-lhe dentro e ela de mim. Engendrámos. Dessa união nasceu uma nova visão e uma certeza: “Não estou apenas ligado à árvore. Sou a árvore e árvore sou eu. Somos a mesma. Apenas a aparência nos distingue”.
Esse momento mágico aconteceu imediatamente a seguir a outro momento mágico. Tinha acabado de engendrar com o Sol, de unir-me com ele. Soube, com toda a segurança, que era, que sou Sol.
A isto chamo integrar o Mundo, unir-me com ele e compreender que não exista nada “fora”. Está tudo dentro de nós. É tudo dentro de nós. Integrar é ir além e incluir. E, daí e diante percebe-se, sente-se que se faz parte de tudo; que se é um todo que faz parte de outro todo maior, que inclui tudo. E, nunca mais, em momento algum, se perde esta certeza.
A solidão, a distância, a fragmentação, os abismos e a alienação morrem definitivamente. Renasce-se. E, na criança que renasce, renasce o brilho, a curiosidade, a abertura, o entusiasmo, vontade de viver, crescer e partilhar, próprio das crianças. Renasce a inocência. Não se trata de ingenuidade tola, mas de estar aberto, disponível, sem pré-conceitos, sem barreiras, nem cinismos - aqueles cinismos que assentam na crença de que a vida é uma luta e que o mundo é uma selva. São crenças que servem para justificar a desconfiança, o egoísmo, egocentrismo e avareza - que não devemos dar nada a ninguém, porque ninguém dá nada de borla; não devemos confiar em ninguém, porque anda meio mundo a enganar o outro meio mundo.
Esta é uma leitura derrotista, derrotada. Uma única árvore pode derrotar este “erro” de percepção, do qual resulta a alienação do indivíduo que se julga “fora”, longe, excluído, distante e privado de ser e obter aquilo que preza e ama.
Não há nada de subjectivo nisto. Tudo isto é experiência concreta, objectiva, experimentada, vivida. É um caminho e a marca de cada passo, a bagagem que se larga e a bagagem que se adquire... são as paisagens e o retrato delas, registados, como fotografias.

Ouvi um homem sábio dizer: “Quem está à procura do seu lugar no mundo está a bater à porta do lado de dentro de casa”. É verdade. Já estamos em casa, no nosso lugar. Não há nada lá fora. O que procuramos está dentro, dentro de nós. Tudo: paz, amor, justiça, verdade, equilíbrio, abundância... Tudo!

Um sábio egípcio anónimo deixou este testemunho há milhares de anos:
“Verifico em palavras o que penso: os meus inimigos são os ignorantes*.
Foi por amor pelo mundo que penetrei no interior de mim próprio e aí descobri coisas admiráveis.”

Do princípio ao fim deste blog, esta é a verdade que partilho. Partilhar não é dividir. É multiplicar. Dar é realizar o “milagre dos peixes”. As árvores sabem. As árvores fazem. A nós, humanos, só resta lembrar. E, do princípio ao fim e do fim ao princípio, tudo se fecha num ciclo perfeito, como a órbita da Terra.

*Os inimigos dizem respeito aos inimigos interiores. Às forças limitativas do indivíduo. São o medo, ressentimento, insegurança, mágoa, desconfiança, raiva, preconceitos, egoísmo, arrogância, etc. Todos estes inimigos interiores são actores mentais e emocionais ao serviço do ego, o qual quer preservar o seu território, a sua concepção de “estar em segurança” e, assim obter o que pretende. Estes inimigos são os ignorantes, não porque sejam burros, mas porque não estão esclarecidos. O esclarecimento decorre da verdade. Quando sabemos a verdade ficamos “às claras” e deixamos tudo “às claras”. Trata-se do conhecimento, da luz da verdade por oposição à escuridão, ao estar no escuro, na ignorância.

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