14 março, 2008

cavalos de corrida?



"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. Não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

Texto de João Pereira Coutinho, Jornalista.

9 comentários:

João Barbosa disse...

pega lá uma coisa ridícula :-)

sa.ra disse...

Toma lá outra

:) :)

em bobro!!!

beijos
dia muito feliz

Fernando Vasconcelos disse...

Subscrevo por inteiro este texto. Já falamos dele por email mas aqui fica o apoio público.

Magri disse...

Para ganhar a vida deixamos de a viver.
E o pior é que nem reparamos nisso, qual atleta apenas concentrado na competição.

Beijinho.

ॐ Hanah ॐ disse...

Textos complementares, esse juntamente com o do Tibet,

Já pensou o tanto de porqueira que esses chineses enfiam pelo nosso gargalo ????

Bleeses

boa semana ...

teresa g. disse...

Pois, e acabamos por ser todos (ou quase) arrastados na corrente. Às vezes sinto-me como um pachorrento cavalo sem pedigree nenhum a ter que entrar na corrida. Vou barafustando e correndo... enfim.

(Já sabes, azedumes :) )

Bjinhos

oceanus disse...

seremos mesmo todos assim?

há sempre aqueles que de um modo ou de outro são diferentes...e vivem neste mundo e até são felizes... mesmo com dificuldades.

bjs e dias felizes

Teresa Durães disse...

concordo e discordo porque a minha vida tem sido essa tal maratona mas faço um esforço hércule para que não seja assim.

talvez antes fosse mais fácil. se tiver um marido que me pague as despesas, também largava a maratona e vivia em sossego

Mofina disse...

A vida de sonho é um pesadelo...