O extraordinário caso do Butão
Há pouco mais de meia dúzia de anos, o rei de um reino pequenino e longínquo espantou o mundo numa grande e importante conferência internacional.
Enquanto os “grandes” falavam de Produto Interno Bruto, o rei do Butão apresentou o programa de governo do seu país, enquanto política nacional oficial, praticada no seu pequeno reino, escondido entre os Himalaias. A política do Butão foi apresentada sem qualquer melindre, afinal aquele povo sabe o que quer e não brinca com coisas sérias.
O nome desse programa de governo chama-se:
Felicidade Interna Bruta.
É esse o objectivo daquele governo. Alicerçado numa visão holística do ser humano, visa criar, promover e defender a felicidade dos seus cidadãos. A fonte desta política assenta no budismo, o qual compreende o ser humano em todas as suas dimensões. Daí que todas elas tenham de ser contempladas, favorecidas e estimadas quando, na prática, se investe na riqueza, bem estar e desenvolvimento de um país. E, todas estas palavras têm uma significado profundo, com carne e osso no budismo.
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As pessoas não são números, contribuintes, utentes, clientes, etc. A nossa saúde mede-se, por exemplo, pelo número de hospitais, atendimentos ou camas disponíveis nas enfermarias. Mas, saúde é muito mais que isso, é também paz! É saúde dentro de um corpo, que é também uma mente, uma alma e um espírito. Alguém, aqui em Portugal, sente a sua alma, o seu coração, os seus sentimentos reconhecidos, cuidados, contemplados quando é entregue a um médico ou uma enfermeira. Por cá, um corpo deitado numa maca, é uma doença deitada numa maca. Não é um ser humano completo, com corpo, mente, coração e alma. É uma doença, um número na lista, à espera de ser chamado.
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Enquanto o resto do mundo mede a felicidade (aliás, nem nos atrevemos a usar essa palavra “pirosa”) em estatísticas que contabilizam o números de bens (electrodomésticos e parque automóvel, por exemplo) que cada cidadão possui, no Butão, a riqueza, qualidade de vida e progresso inclui a preservação das florestas sagradas ou da água pura nos rios – estes são considerados factores determinantes para a felicidade das pessoas.
Trata-se de um pequeno país, com pouco mais de 2 milhões de habitantes, sobretudo rural e de agricultura de subsistência. A sua cultura é milenar, com tradições riquíssimas, às quais os modernos estrangeiros podem assistir se estiverem dispostos a pagar um fortuna, isto só para obterem autorização para entrar no país. O preço do turismo no Butão disparou desde que a população se queixou directamente ao rei (o rei recebe e resolve efectivamente os problemas do seu povo) do incómodo e mal-estar provocado pelos turistas: queixaram-se que a presença desses “estranhos” estava a perturbar os espíritos das suas florestas sagradas. O rei, empenhado em fazer o seu povo feliz, tratou de encontrar uma forma de protegê-lo do turismo invasivo. Assim, mesmo com eventuais prejuízos decorrentes de uma quebra na taxa de turismo, foi inflacionado o preço para visitar o Butão. Menos turismo, menos turistas, não pesou na balança das decisões governamentais. Ali, a felicidade conta. Aliás, ali a felicidade é que conta! Esse é o bem mais precioso.
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Bandeira do Butão
O Reino do DragãoUm lugar e uma lição de sabedoria, "simples" e despojada, que nos deveria fazer reflectir sobre as nossas verdadeiras prioridades A riqueza de certos países, como o nosso, mede-se por cálculos, ganhos e gastos, taxas de inflação... Mede-se pelos bens materiais que as pessoas possuem; mede-se por quanto temos, o que estamos a comprar, quanto estamos a ganhar e a gastar. E, a qualidade de vida das pessoas resume-se a isto!
E a alegria, e o prazer de viver? E a paz interior? E o ar que respiramos? E as nossas florestas? E a nossa esperança? E a nossa auto-estima? E o amor?
mais aqui:
http://www.bhutanstudies.org.bt/publications/gnh/gnh.htmhttp://www.kingdomofbhutan.com/http://www.grossinternationalhappiness.org/