28 fevereiro, 2007

de carne e osso














Somos de carne e osso e não há nenhuma experiência que possamos viver excluíndo ou negando o nosso corpo.
Não há experiências "fora" do corpo, ainda que para além dele.

Somos corpo, mente, alma e espírito.
A mente vai além do corpo e inclui-o. A
alma vai além do corpo e da mente e inclui ambos. O espírito vai além de tudo e inclui tudo. Mas nunca, em caso algum, o corpo é excluído dos domínios que vão para além dele. Cada experiência, seja ela qual for inclui o corpo. Desde a sensibilidade mais ténue à experiência mais sublime é no corpo que a experimentamos. É aí que a recebemos e nos damos conta dela - nos nossos nervos, no bater do coração, no sabor que impregna o olhar, no cheiro dos outros, nos gestos, nos pensamentos, ideias, nas obras que fazemos em silêncio ou moldadas pelas nossas próprias maõs. O nosso corpo é a primeira obra que devemos admirar e é ligado a ele que podemos ascender a todos os domínios que o ultrapassam.


Sublimar o corpo, não é mesmo que valorizar a imagem. O nosso corpo é maravilhoso, independentemente da forma.

Apesar das dores, apesar das aparências, apesar das limitações, o corpo é o nosso primeiro instrumento e o grande templo de todos os nossos sentidos, sentimentos, ideias, vislumbres e sonhos.
Berço e abrigo daquilo que somos, aqui e agora, o nosso corpo de carne e osso é lindo!

26 fevereiro, 2007

Impermanência


Quem tem as mãos cheias,
não consegue aceitar novos presentes

A vida é feita de impermanências:
Coisas, pessoas, ideias, crenças, metas, sentimentos, projectos, prioridades, estados de espírito, status, condição financeira, aspecto físico...

Tudo muda...
Mas uma coisa é movimento, outra é agitação.
O movimento é como a eterna dança das estações - a alternância, a renovação, a mudança natural e criativa.

A agitação resulta do apego e resistência à mudança, da não aceitação da impermanência e da luta constante para prender, agarrar o que (tantas vezes) tem de ir, o que não serve, o que está obsotelo, o que se esgotou.

O apego às coisas impermanentes entope a entrada ao novo, à mudança.
O desapego abre espaço para a renovação, para a imaginação, para a criatividade. Assim como a Terra explode de vida em cada Primavera, assim aquele que viveu um Inverno interior, com aceitação e liberdade, desabrochará renovado, pronto para uma nova jornada.

Aceitar a impermanência das coisas é cultivar uma serenidade inabalável.
A paz interior, o bem-estar e a felicidade não dependem daquilo que temos e queremos conservar, mas daquilo que somos, de quem somos. A alegria está em nós e não nas coisas que possuímos.



"No budismo, o termo soukha designa um estado de bem-estar que nasce de um espírito excepcionalmente são e sereno. É uma qualidade que contém e impregna cada experiência, cada comportamento, que abrange todas as alegrias e todas as penas. Uma tão profunda felicidade que “nada poderia alterar, como as grandes águas calmas sobre a tempestade”. É também um estado de sabedoria, livre de venenos mentais e de conhecimento, livre de cegueira sobre a verdadeira natureza das coisas".
in Em Defesa da Felicidade, Matthieu Ricard; Pergaminho

Post em sintonia com Just a feeling, Dias de Sol e Chuva e What moves me

23 fevereiro, 2007

milagre da multiplicação




Partilhar é multiplicar.
Dar sem apego, sem expectativas.

in Bailado das Borboletas

21 fevereiro, 2007

o amor cura


Ode to Kimpt de Danny MacBride
A tua dor e a tua ferida
não são a mesma coisa.
Cuida da tua ferida.
(segue-lhe o rasto, aproxima-te, observa-a, conhece-a profundamante, sem julgamentos, com ternura)
E deixarás de sentir dor.

19 fevereiro, 2007

outro carnaval



Cada rosto é uma máscara.
Cada forma é uma máscara.
Para além da forma, para além dos rostos

(e máscaras) reside o genuíno,
o incorruptível e eterno.
A máscara da forma (de cada forma)

coloca-nos no palco da vida...
Dancemos a dança da liberdade!

16 fevereiro, 2007

marcas



"Quando eu estiver contigo no fim do dia,
poderás ver as minhas cicatrizes,
e então saberás que eu me feri
e também me curei"
Tagore

13 fevereiro, 2007

cartas de amor



Embora o Tarot seja conhecido como um jogo de adivinhação, o seu signficado e origem apontam para um sentido muito mais profundo e interessante.

O Tarot desenha o caminho. É um código que esconde e revela as peripécias e etapas daquele que busca encontrar-se a si próprio e elevar-se através da experiência da vida. Foi um dos instrumentos desenvolvido pelos antigos alquimistas. Trabalharam em segredo e mantiveram cifrado o processo alquímico, também assim, nas ilustrações que compõem os Arcanos Maiores.
A alquimia, difundida tanto no Ocidente, quanto no Oriente, deve a sua expansão, julga-se, a Hermes Trimegisto, o sábio egípcio, cujo nome significa "Três vezes o grande" e que remete, à primeira vista, para Hermes, deus grego da sabedoria e mensageiro dos deuses. Mas o nome Hermes tem sede no Egipto, onde o deus que representava esse arquétipo era Thot, o escriba divino, inventor dos hieróglifos (a escrita divina, mensagem dos deuses) e deus da sabedoria universal, detentor dos segredos do universo. Hermes Trimegisto revelou os segredos da alquimia, sem no entanto expôr, de facto, os segredos da Arte.

O termo alquimia, julga-se, deriva da palavra Kémia, cujo significado remete para as terras negras e férteis do antigo Egipto, e para a expressão "abertura do coração", pois o caminho e processo alquímico é isso mesmo: abrir o coração, penetrar nas profundezas da matéria, trabalhá-la, sujeitá-la às mais duras transformações para, no fim, extrair dela o mais puro e sublime dos valores: o ouro.
O Tarot conta essa aventura passo a passo, o percurso do homem que busca em si mesmo o ouro interior - a sua imortalidade, a sua riqueza, pureza e brilho mais puros.
As cartas são mensagens fechadas, hermeticamente fechadas. São símbolos que só se abrem àqueles que procuram genuinamente. Desde sempre e ainda hoje continuam protegidas do olhar impuro - do olhar que não vê com pureza.
As cartas do Tarot são verdadeiras cartas de amor, desenhos que inspiram a busca e instigam a alma a percorrer e decifrar os segredos e mistérios da existência.

Entretanto, muitos e novos jogos de Tarot têm sido criados e recriados.
A filosofia é a mesma.
Recebi hoje uma prenda de Sol de Domingo - cartas de amor, como lhe chamo.
São muito bonitas e inspiradoras. Obrigada.

08 fevereiro, 2007

contribuição pública


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Nenhum rio faz retenção na Fonte

07 fevereiro, 2007

episódio do nascimento do mundo


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Quando as árvores acasalam e fazem amor,
Nascem filhos de vários sabores.

Às vezes até nascem crianças.

Quando as árvores namoram,
Perfumam os sonhos nos ventres das mulheres.
Então, há mulheres que dão à luz rebentos de sol e seiva.
Noutras ocasiões nascem árvores com braços e coração.

Contaram-me de um caso em que nasceram gémeos
A Terra e a Mulher pariram de uma só vez
árvores-e-meninos-irmãos-verdadeiros.
Foi no princípio do Mundo.

Há tantas histórias de irmãos que não se conhecem,
de irmãos separados…
São histórias tristes, tão tristes.


Acho que no dia em que se abraçarem de novo
vão chorar muito,
por causa da saudade e da alegria
.
Há-de ser um dia de grande alívio.
Será no princípio do Mundo.