28 dezembro, 2006
retorno da luz
É tempo de renascer com ele.
É isso o Natal - a festa que celebra o retorno da criança-luz-sol em nós e através de nós.
Se eu souber... se eu for capaz, essa é a prenda mais honesta
e genuína que desejo oferecer a mim e aos outros.
Feliz ano novo!
04 dezembro, 2006
cúmulo da noite
26 outubro, 2006
neologismo
Verbo: outonar
Tempo: presente
Eu outono
Tu outonas
Ela outona
Nós outonamos
Vós outonais
Elas outanam
Certas árvores recolhem a seiva no Outono,
sorvem de si o essencial e deixam ir o que caducou.
Ficam mais quietas e caladas,
metidas consigo, no interior do tronco e dos ramos.
Certas árvores sacodem dos ombros
os pesos mortos e agradecem ao vento e tempestades
a gentileza de lhes levar o que já não serve.
Ficam mais leves e mais limpas,
para renascer quando for tempo.
Certas árvores preservam a vida assim,
morrendo.
29 setembro, 2006
auto-gerada
Tudo o que é faz-se a si mesmo.
O Universo auto-gerou-se, uma borboleta criou-se a si própria e eu repliquei-me, formei-me e gestei-me no útero da minha mãe-fonte que alimentou a minha intenção de nascer. Cresci... tornei-me eu mesma , maior. Eu fiz-me a mim própria. Para isso não foi preciso nenhum esforço suplementar ou um investimento acrescido de energia. Curiosamente, e paradoxalmente, o ser humano esforça-se tanto para "ser alguém na vida" - Não é já?!... Não é sempre alguém?!
O processo da auto-geração é uma manifestação espontânea da Natureza intrínseca daquilo que é. Posso não saber resolver uma equação matemática, desconhecer as leis da física ou o que são células estaminais, mas soube aplicar tudo isso na feitura de mim mesma... soube criar-me a mim mesma, tal como todos nós sabemos.
A ciência pode explicar como ocorre o fenómeno, mas a ocorrência em si mesma é ultrapassada pelo próprio processo - a ciência não faz o fenómeno. Cada borboleta, cada árvore, cada gota de água ou partícula do Universo é uma manifestação daquilo que soube criar-se a si próprio, único e irrepetível.
Todos e cada um de nós é uma manifestação da sabedoria da Vida. Todos e cada um de nós é um fenómeno extraodinário, tão fantástico e mágico como o próprio Universo. Todos e cada um nós é um milagre.
Tocar Deus é ser Deus.
17 setembro, 2006
Deepak Chopra em Portugal
Deepak Chopra vai estar, no dia 19 de Setembro, no Auditório da Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa.
Tema: Realização espontânea do desejo
Entrevista aqui
27 agosto, 2006
janela dos meus milagres
de ADORMERCER AO LADO DA PRIMAVERA
Adormecer num colchão de molas do lado da primavera e acordar do lado do verão
Atirar-se da janela de um quinquagésimo andar e aterrar intacto na folha de um nenúfar
Derrotar todos os exércitos do nascente e sucumbir ao ser atacado pelas costas por uma folha de outono
Descobrir uma caravela naufragada há quinhentos anos no fundo dos teus olhos
e conseguir trazer para a superfície duas estátuas de Buda, além de uma tonelada de pimenta e outra de cravo
Jorge de Sousa Braga, in Balas de Pólen
Feliz aniversário querido JP
16 agosto, 2006
zero
"Estou convencido das minhas próprias limitações...
e esta convicção é minha força."
Mahatma Gandhi
Há dias assim. Há momentos assim,
definitivamente-completamente-absolutamente assim.
Não são bons nem maus. São assim.
Ocorre um "reset"... naturalmente dou-me conta de que o recipiente está vazio...
esgotou-se qualquer coisa, como um combustível que permitiu a marcha durante uma determinada etapa da viagem, mas que, entretanto, acabou. E então, só uma coisa é certa: não sei nada, nada.
Resta-me (outra vez) aprender... aprender... aprender...
Um abraço a todos quantos me vêm visitar apesar desta intermitência.
Dia muito feliz a todos.
03 julho, 2006
da seiva
Desenhei o meu nome sobre a folha
com o soro-seiva da árvore sagrada.
Bordei o meu nome com raios de Sol
e pintei-o com as cores de cada fio de luz.
Desenhei um corpo inteiro,
com raízes, ramos e figos maduros.
Nas nervuras assinalei o curso do tempo
e marquei com o meu cheio
todas as fronteiras que têm de cair.
Aqui, sabe-se, o horizonte é sempre mais adiante.
Desenhei até às bordas da folha
e quando a folha não tinha mais espaço,
desenhei nas mãos, nos braços, no ventre...
E cobri a pele toda com o meu nome-desenho-de-árvore.
Trago o corpo todo estendido
com o meu nome à mostra.
O meu nome parecia ser o último segredo,
mas não é.
21 junho, 2006
religião... re-ligação da luz
Akhenaton, Saudação a Aton
Celebrar o Sol é ser Sol e aderir às suas faculdades. É gerar luz, claridade, clareza em cada pensamento, palavra e acção. É pôr às claras, esclarecer. É ser honesto, verdadeiro consigo próprio e com os outros. É repelir a escuridão, a mentira.
Ser Sol é ser fonte de vida - energia que cria, transforma e nutre. É amar indiferenciadamente e dar o que se tem. É dar sem pensar no que pode ganhar-se com isso. É fazer o que tem de ser feito e gerar o que tem de ser gerado. É ser-se o que se é, e fazer, criar e partilhar o que somos. E, "quem dá o que tem, a mais não é obrigado".
O Sol ilumina indiferenciadamente. Oferece a sua luz, o seu calor, a sua energia e a sua força, sem olhar a quem. Cada um que aceite, receba ou reconheça essa dádiva, se puder, quiser ou souber.
O Sol não julga, nem deixa de dar, mesmo quando o mundo ignora o seu dom.
O Sol dá porque sim. Não busca aplauso, nem louvores. Cumpre-se. É. Faz. Dá.
Isto sim, é ser verdadeiramente virtuoso. Afinal, o Sol não o faz para ser “bonzinho”; não tem nada a provar, mostrar ou justificar. Cada “planeta” faz o que bem entende com o que recebe, e se não puder ou souber tirar o melhor partido da oferta, o Sol não castiga nem nega a dádiva.
Ser Sol é ser luz, é ser amor, é ser um transformador e um gerador de Vida. É ser Criador, todos os dias. Porquê... para quê? Porque somos filhos do Sol e porque, se quisermos, podemos potenciar essa herança que está nos nossos “genes” e cumprirmos, também nós, a nossa natureza.
O Sol abraça-nos, nutre-nos, aquece-nos e ilumina-nos a todos, todos os dias com a sua energia.
Celebrar o Sol é ser Sol. Esta é a minha religião.
Feliz Solstício – que o Sol brilhe em cada um e através de cada um de vocês, com muita força e alegria!
19 junho, 2006
agir... em vez de reagir
Na minha opinião a filosofia budista é uma lição extraordinária.
O Tibete foi invadido, devastado... saqueado. E continua a ser.
Os tibetanos, sobretudo, os monges têm sido vítimas da brutalidade do regime chinês. Continuam a ser perseguidos, despojados e torturados... A campanha de endoutrinamento chinesa faz vítimas a cada dia que passa... porque a força do Tibete assenta na firmeza dos seus valores... que não são nem o poder nem o dinheiro, mas sim uma ética de responsabilidade individual e universal de compaixão pelo Homem, assumida e praticada.
Contudo, meus amigos, a tudo isto o budismo responde com abertura, aceitação, partilha e amor.
Ao contrário dos palestinianos, que angariaram o medo e ódio do mundo, os tibetanos angariaram amizade, respeito e admiração pela sua cultura e pela sua causa.
Felizmente ou infelizmente, os Homens são também a sua cultura - um produto da sua sabedoria ou ignorância.
Não vou discutir a razão dos povos - todos os povos têm o direito a ser quem são, como são - estou a sublimar a resposta: firme mas sensata e generosa do budismo tibetano.
Mesmo sob o regime chinês, são livres e sorriem.
É uma extraorninária lição de sabedoria, mas sobretudo de Amor!
Para ajudar a causa tibetana e para conhecer melhor um pouco desta sábia cultura, clique aqui ... é uma oportunidade imperdível... que com muita pena vou perder!
Fica para a próxima!
época de exames
Magdalen with the Smoking Flame, Georges de La Tour
Exame de condução
Despreza as estradas largas, segue os carreiros.
Pitágoras
Teste ao Q.I.
Não existe verdadeira inteligência sem bondade.
Ludwig van Beethoven
Exame de metodologia
Comece por fazer o que é necessário, depois o que é possível e de repente estará a fazer o impossível.
São Francisco de Assis
Prova de resistência
Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.
Epicuro
Teste à persistênciaAinda que os teus passos pareçam inúteis, vai abrindo caminhos, como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão...
Saint-Exupéry
Exercício de equilíbrio
Não é livre quem não tenha obtido domínio sobre si mesmo.
Demófilo
Teste à atenção
Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo momento chegou.
Victor Hugo
Exercício de humildade
É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe.
Epíteto
Exame de visão
A alegria não está nas coisas: está em nós.
Goethe
Teste à confiança
Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho no silêncio - e eis que a verdade se revela!
Einstein
Exame de consciência
A minha consciência tem para mim mais peso do que a opinião do mundo inteiro.
Cícero
12 junho, 2006
tiro o chapéu a estes senhores
A Sociedade Portuguesa para a Educação Humanitária, abreviadamente SPEdH, é uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos criado por um grupo de pessoas que se reuniram para pensar o mundo que as rodeia. E agir. Olhando o passado para melhor compreender o presente. E partilhar. Para melhor desenhar o futuro.
Herman Melville disse-nos que «não podemos viver isolados porque as nossas vidas estão ligadas por mil laços invisíveis». Referia-se ele às interacções sociais no seio de um grupo de primatas humanos. Mas não deixa de ser verdade que nós e os outros animais também acabamos por estar ligados por mil laços invisíveis. São ligações sem quaisquer implicações morais. Simplesmente são. Neste capítulo sobre aquilo que os biólogos chamam de interacções simbióticas os mundos diferentes confundem-se. E misturam-se. E todos precisam de todos.
Para que o mundo possa acontecer. Esta é uma ideia-chave do conceito de educação humanitária. O reconhecimento da interdependência de todos os seres vivos. Porque na verdade as coisas funcionam melhor se nos ajudarmos uns aos outros. E os outros já aprenderam a lição há muito tempo. É por isso que chegaram tão longe. Stephen Jay Gould, certamente um dos cientistas mais brilhantes do século XX, disse-nos que «a mensagem principal da revolução darwiniana à espécie mais arrogante da natureza é a unidade entre a evolução humana e a de todos os demais organismos». Mas também disse que «podemos aprender muito sobre nós próprios partindo do facto inegável de que somos animais evoluídos». As nossas vidas dependem de todos. Porque sem todos somos nada. O mundo poderia de facto ter sido ordenado de maneira diferente se não existissem estas interacções simbióticas. Mas não foi. E em grande parte porque vivemos ligados por mil laços invisíveis.
O passo seguinte leva-nos à outra ideia-chave do conceito de educação humanitária: a compreensão da necessidade da compaixão e do respeito do Homem pelos seus semelhantes, pelos outros animais e pelo meio ambiente. Precisamente com base na ideia-chave anterior de que as nossas vidas dependem de todos. Porque sem todos somos nada. É claro que este é um processo complexo que somente um enorme esforço de libertação, humana, poderá fazer tudo isto acontecer. A verdade é que a educação humanitária leva-nos a tornarmo-nos mais humanos. Mas não menos animais.
Cada um de nós pode mudar o mundo partindo do princípio que o mundo começa em si mesmo. E às vezes o impossível torna-se possível e acontece mesmo. E a nossa história colectiva e certamente a nossa história individual está cheia de pequenas transformações entre o impossível e o possível. É certo que os homens e as mulheres deste tempo estão cada vez mais exaustos e tristes e perdidos. E com medo. Mas a SPEdH acredita que no meio deste atoleiro de vaidades e perdições, em que não existe critério nem rumo, nem tão pouco qualidade de vida, acredita mesmo que ainda é possível mudar. E àqueles que nos disserem que não podemos acreditar em coisas impossíveis, responderemos da mesma forma que a Rainha respondeu à Alice: «Suponho que tens falta de treino. Aconteceu-me algumas vezes acreditar em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço.»
isto e muito mais aqui
01 junho, 2006
meninos e meninas
Se eu mandasse, hoje todos os adultos teriam de voltar ao infantário, à escola, ao pátio da minha rua, ao parque da minha cidade.
Hoje, todos viriam aprender connosco a brincar outra vez.
Hoje nós seríamos professores e vocês os alunos!
E, por um dia, reaprenderiam a rir só porque apetece...
e voltarim jogar à apanhada, à bola, às escondidas...
A cantar, dançar... e a dizer o que pensam, como nós dizemos!
Hoje, poderiam chorar e até fazer uma birra!
Hoje poderiam chorar de cansaço, sono ou aborrecimento, sem vergonha ou justificações... hoje estariam dispensados de "aguentar", negar ou fingir as vossas tristezas, medos e frustrações!
Hoje poderiam brincar ao faz-de-conta e acreditar nos vossos sonhos de voar!
Hoje poderiam comer uma gelado e sujar a roupa...
Hoje poderiam ser a criança que são!
Hoje eu gostava muito que te lembrasses da criança que há em ti e a deixasses ser livre!
Quem salva uma criança, salva o mundo inteiro
Há 860 milhões de crianças sem infância
Dá a ti e a nós o direito de ser criança
apanha-me também um poeta
Criança!
Apanha-me uma flor!
... uma borboleta!
E já agora apanha-me também um poeta!
“Apanha-me também um poeta!” é o nome de uma exposição linda, linda, linda!
Esculturas em papel de Bernard Jeunet, para ilustrar livros infantis!
Bernard Jeunet não pinta nem desenha as suas ilustrações. As suas personagens são esculpidas em papel, a pose ensaiada sobre cenários, a composição ajustada com rigor, os elementos decorativos dispostos meticulosamente. Todo o mobiliário, todos os objectos, da minúscula caixa de lápis ao minúsculo caderno, a luz e as sombras, os reflexos da luz na água. Tudo é papel!
Lindo!
O título da exposição, extraído de um poema de um dos seus livros, serviu de inspiração para 9 poemas inéditos, escritos por 9 poetas portugueses “apanhados “ para o efeito (Matilde Rosa Araújo, Luísa Ducla Soares, José Fanha, José Jorge Letria, Maria Alberta Menéres, Emílio Remelhe, António Torrado, Alice Vieira e Vergílio Alberto Vieira).
A mostra conta com as ilustrações originais de quatro dos seus livros, bem como exemplos de um percurso artístico mais pessoal, num total de mais de 100 imagens.
A mostra estará patente ao público até ao dia 31 de Julho. A entrada é livre.
Auditório Municipal Augusto Cabrita Parque da Cidade Barreiro
Informações: 212141319 / 212147410
ilustrarte-sofia@mail.telepac.pt
www.ilustrarte.web.pt
Os meus filhos adoraram! Prova: assim que chegaram a casa dedicaram-se ao recorte e criação de "peças" de papel!
Já ganhei um chapéu-de -chuva e uma escada!
26 maio, 2006
o convite
Não me importa o que você faz para sobreviver. Quero saber qual a sua dor e se você tem coragem de encontrar o que o seu coração anseia.
Não me importa saber sua idade. Quero saber se você se arriscaria parecer com um louco por amor, pelos seus sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me importa saber quais planetas estão quadrando sua lua. Quero saber se você tocou o âmago de sua tristeza, se as traições da vida lhe ensinaram, ou se omitiu por medo de sofrer.
Quero saber se você consegue sentar-se com as dores, minhas ou suas, sem se mexer para escondê-las, diluí-las ou fixá-las.
Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se pode dançar com selvajaria e deixar o êxtase preenchê-lo até o limite sem lembrar de suas limitações de ser humano.
Não me importa se a estória que você me conta é verdadeira.
Quero saber se você é capaz de desapontar o outro para ser verdadeiro para si mesmo, se pode suportar a acusação da traição e não trair sua própria alma.
Quero saber se você pode ser fiel e consequentemente fidedigno.
Quero saber se você pode enxergar a beleza mesmo que não sejam bonitos todos os dias, e se pode perceber na sua vida a presença de Deus.
Quero saber se você pode viver com as falhas, suas e minhas, e ainda estar de pé na beira do lago e gritar para o prateado da lua cheia.... "Sim"!
Não me importa saber onde você mora ou quanto dinheiro tem.
Quero saber se você pode levantar depois de uma noite de pesar e desespero, exausto, e fazer o que tem de fazer para as crianças.
Não me importa saber quem você é, ou como veio parar aqui. Quero saber se você estará ao meu lado no centro do fogo sem recuar.
Não me importa saber onde, o que, ou com quem você estudou. Quero saber o que sustenta o seu interior quando todo o resto desaba.
Quero saber se você pode estar só consigo mesmo e se verdadeiramente gosta da companhia que carrega em seus momentos vazios.
Feliz caminhada a todos...
Desejo que encontrem a coragem e sabedoria para serem verdadeiros consigo mesmos.
Obrigado por permitir-me partilhar um presente...
Oriah Mountain Dreamer (Um Ancião Nativo Americano)
Bom fim-de-semana
24 maio, 2006
contas ao caminho
Nas terras por onde andei
Nas terras por onde andei
Vi salgueiros inclinados sobre os lagos.
Quando choravam a água subia,
quando bebiam a água baixava.
Os salgueiros podem fazer tudo isso
Pois têm raízes profundas
Nas terras por onde andei
Inclinei-me para a água,
para o abismo e para as estrelas
com raízes bem agarradas à terra.
autor: chucho, o homem do farol
na noite dos dias,
há um farol chamado coração
que guia loucos e aventureiros
23 maio, 2006
morte anunciada
Sobre a Pedra.
Olhei-me,
Defunta de mim própria, sorri, tão grata.
Aprendi a amar a Morte.
Nekhbet
"Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá sozinho; mas, se morrer, dará muitos frutos"
João: 12,2
19 maio, 2006
curso natural
foto daqui
O GUARDA-RIOS
É tão difícil guardar um rio
quando ele corre
dentro de nós
in Balas de Pólen, Jorge de Sousa Braga, edições quasi
18 maio, 2006
limpeza
Certas emoções quando sobem, saem como vómitos.
Em qualquer dos casos, bem vistas as coisas, por mais desagradável que seja
trata-se do reconhecimento daquilo que estava podre ou era indegesto e, se expelido, promove a limpeza interior e a recuperação do equilíbrio e bem-estar.
Há apenas que ter o cuidado de não vomitar em cima de ninguém o veneno que abrigámos cá dentro!
Como me disse uma vez uma sábia, a verdade não tem de justificar nada, apenas esclarecer.
A água limpa e a verdade clarifica. Claro como água!
17 maio, 2006
problemas de visão
Segundo um estudo sociológico recente, encomendado pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, metade do Portugueses vê mal!
“55,8% dos inquiridos têm problemas de visão, sendo que 43,6% têm Miopia [dificuldades em ver ao longe], 24,2% sofrem de Hipermetropia [dificuldades em ver ao perto] e 18,7% Astigmatismo [visão desfocada].”
Desconfio que ... é a visão em geral e em particular...
Conversa entre sr. Patrão e sr. Empregado
Sr. Patrão – Pois é sr. Empregado... isto não está nada bem. Este ano não vamos poder dar aumentos a ninguém.
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – A situação da empresa não está boa. Além de não termos tido lucro, ainda tivemos prejuízo... a empresa está a atravessar uma grave crise...
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – A economia nacional está no estado em que está e isso reflecte-se nas empresas...
Gostava muito de comunicar-lhe um aumento, mas infelizmente este ano já não vai ser possível... quem sabe no próximo ano...
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – Temos de continuar a semear! O sr. Empregado é um funcionário que tem dado provas do seu valor, e um dia, quando ultrapassarmos esta crise, irá com certeza colher os frutos do seu empenho...
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – Felizmente estamos a conseguir evitar fazer cortes no pessoal... e, olhe... apesar de estas não serem as melhores notícias, a verdade é que é uma grande sorte não ter de estar aqui a tratar do seu despedimento... Nesta altura, tendo em conta o estado do país e da empresa, é muito bom poder dar-lhe esta notícia: não vou dar-lhe um aumento, mas também não vou despedi-lo...
Sr. Empregado – Sim, sr. Patrão... eu sei que tenho imensa sorte em ter este emprego!
Sr. Patrão – Estamos a passar por uma crise terrível! Terrível!
Sr. Empregado – Pois...
Sr. Patrão – Mas estou confiante que com o empenho de todos, e sobretudo com o seu, este mau momento será ultrapassado!
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – Conto consigo para nos ajudar! Conto com o seu entusiasmo e motivação. Tenho a certeza que, juntos, daremos a volta a isto!
Sr. Empregado - ...
Sr. Patrão – Vamos lá trabalhar com garra, certo?!
Sr. Empregado – Sim sr. Patrão!
Entretanto, em outro gabinete, numa outra empresa...
Sr. Empregado – Pois é sr. Patrão isto não está nada bem. Este ano não vou poder trabalhar como até aqui... vou ter de abrandar...
Sr. Patrão – Como?
Sr. Empregado – A minha situação piorou. Além de não ganhar mais, tenho ainda mais despesas... A minha vida está a atravessar uma grave crise... e estou a ficar cada vez mais endividado...
Sr. Patrão – ...
Sr. Empregado – O país está a passar por uma grave crise e o mesmo acontece na minha vida e na minha família...
Sr. Patrão – Estarei a ouvir bem? o Sr. Enlouqueceu?
Sr. Empregado – Hoje, o que ganho chega para poder vir trabalhar... os meus filhos passam 12 horas num colégio e pago mais de metade do meu ordenado só par poder comparecer ao serviço... A minha mulher está doente... úlcera nervosa – baixas, médicos, medicamentos estão a dar cabo do nosso orçamento que já estava a derrapar... os meus filhos estão rebeldes, exigentes e insuportáveis... a minha vida está a passar por uma crise terrível. Terrível!
Sr. Patrão – ...
Sr. Empregado – Estou muito cansado... não tenho ânimo para nada!
Os meus filhos precisam de mim e falta-me paciência para tudo: falar, ajudá-los nos estudos, brincar então nem se fala...
Sr. Patrão - ...
Sr. Empregado – A minha mulher está tão mal... deixou de rir... deu cabo dos nervos e do estômago no trabalho... a vida está muito difícil e vale tudo para agarrar um emprego... o stresse deu cabo dela... está um frangalho... eu não tenho tido muita paciência também, confesso...
Sr. Patrão - ...
Sr. Empregado – Mas estou confiante que isto vai melhorar. Conto com o seu empenho para ultrapassar esta crise. Peço-lhe que encare isto como um investimento... é preciso semear para colher depois e, garanto-lhe, um dia há-de colher os frutos do seu empenho...
Sr. Patrão – Grrrrrrrrrrrrrr
Sr. Empregado – Eu poderia estar a dizer-lhe que já não posso contar mais consigo... mas não! O sr. já revelou que é um patrão válido! Tenho a certeza que vai dar-me um aumento, reduzir a pressão no trabalho e juntos vamos ultrapassar esta crise!
Sr. Patrão – Grrrrrrrrrrrrrrrr
Sr. Empregado – O seu empenho é fundamental! Em coisa de um ano ou dois eu já estarei com a minha vida equilibrada e nessa altura vou trabalhar com muita alegria e entusiasmo! Verá que, juntos, daremos a volta a isto!
16 maio, 2006
resultado da pesquisa
Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que devia ser, já se matou em vida: é um suicida de pé. A sua existência consistirá numa perpétua fuga da única realidade que era possível.
José Ortega y Gasset
Ninguém é mais escravo do que aquele que se considera livre sem o ser.
Goethe
Não é livre quem não tenha obtido domínio sobre si mesmo.
Demófilo
A liberdade, ao fim e ao cabo, não é senão a capacidade de viver com as consequências das próprias decisões.
James Mullen
Prefiro morrer de pé a viver sempre ajoelhado.
Ernesto "Che" Guevara
Não nos tornamos livres por nos negarmos a aceitar algo superior a nós, mas por aceitarmos aquilo que está realmente por cima de nós.
Goethe
Escolher é sacrificar. Que importa sacrificar algo grande em troca de algo ainda maior?
Autor desconhecido
Liberdade significa responsabilidade, É por isso que tanta gente tem medo dela.
George Bernard Shaw
Há homens que lutam um dia e são bons; Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis.
Bertold Brecht
A verdadeira liberdade consiste somente em fazer o que devemos, sem sermos constrangidos a fazer o que não devemos.
Jonathan Edwards
Deixe o cavalo solto... se voltar ele é seu, se não voltar, nunca foi seu.
Autor desconhecido
O escravo tem um só senhor; o homem ambicioso tem tantos quantas as pessoas que possam contribuir para o incremento da sua fortuna.
Jean de la Bruyére
O primeiro passo para conseguirmos o que queremos na vida é decidirmos o que queremos.
Ben Stein
retirado daqui
12 maio, 2006
entrega
Ouvi, pelo ouvido direito, o rumor das águas.
Depois pelo esquerdo.
Soube assim das marés que se agitam.
Evaporei-me.
O caudal encheu os úteros,
onde todas as crianças se fazem a si mesmas.
Deu-se o contágio em todas as coisas.
Estão puros e sagrados,
todas as fontes, lagos, riachos, rios e oceanos.
E correm fora e correm dentro,
Lavam e regam as paredes das veias
e o pano das vestes de luz.
Encaminham-se os peregrinos ao lugar do banho divino.
Que a água os leve ao sítio da desova,
E que chova desse líquido que mata a grande sede.
Ouvi de toda a parte a torrente de apelos.
Não sei de pedidos nem de promessas.
Trago a lua cheia no ventre.
11 maio, 2006
09 maio, 2006
Resposta, responsabilidade e natureza humana
Liberdade ou anarquia implicam necessariamente responsabilidade. Responsabilidade deriva de resposta, e portanto, é a forma como respondemos que caracteriza e, em última análise, qualifica a nossa intervenção no mundo. Está, por isso, subjacente à nossa responsabilidade a resposta que escolhemos dar em cada momento das nossas vidas.
Não somos como o cão de Pavlov. Aceitar que a nossa resposta é mecânica e insuperável é demitirmo-nos do nosso poder de escolha e, seja ela qual for, somos os únicos responsáveis por ela, mais ninguém. O Direito tabela a nossa margem de intervenção numa esfera de comportamento legal e apropriado ou, por outro lado, exclui-nos para o âmbito da ilegalidade ou do não adequado. O Direito é, no entanto, fruto da valoração que atribuímos às escolhas, e essa valoração é feita por nós. O Direito responde, por conseguinte, a necessidades ou aspirações, as quais se inscrevem numa época e num contexto social e cultural. São por isso não-fixas e podem, acredito, tornar-se adquiridas, como é hoje, por exemplo, o direito da mulher ao voto. Quando falo de Ordem, falo de uma Ordem Universal (supratemporal e não-local), a qual acolhe a diferença, mas vai além dela. Não discuto valores, se são certos ou errados, pois isso depende da avaliação e valoração de cada um. A valoração é um produto de cada indivíduo e do grupo. A minha opinião é, também ela, o valor que lhe dou, mais nada.
Somos livres de pensar ou desejar o que quisermos, inclusive, a morte de alguém, mas somos condenados se o fizermos. Somos livres de escrever, por exemplo, livros, músicas ou realizar filmes que exploram a violência gratuita, que legitimam a vingança ou sublimam técnicas de roubo. No entanto, se o fizermos e formos apanhados seremos presos. Somos livres de desenvolver técnicas de informação (?!) que exploram e promovem emoções como o ódio, a vingança ou o racismo, e somos livres de consumi-las. Pergunto: então, a liberdade do pensamento ou desejo não deveria estar também sujeita a uma responsabilização? Acho que sim, mas aí, onde o Direito não pode nem deve regular, deve regular e educar (como em tudo o resto) a consciência individual, não como censura, mas como introspecção séria e potência transformadora, a qual através do conhecimento de si próprio promove a alteração de quadros de pensamentos e formas de sentir.
Na minha opinião, nada é intrinsecamente bom ou mau, certo ou errado, correcto ou incorrecto. A valoração decorre do rótulo que atribuímos a cada coisa ou acção e foi nessa medida que Nietzsche interpelou o indivíduo - à emancipação do Homem está associada a criação dos seus próprios valores e por conseguinte das suas escolhas, sejam elas no plano mental, afectivo ou da acção. Se não precisamos do Direito para pensar e sentir, porque precisamos dele para delimitar as nossas acções? Não estaremos a subestimar o poder dos nossos pensamentos e emoções? No entanto, são estes os catalizadores que assistem às nossas acções e a todas as nossas escolhas - activas ou passivas, todas acarretam consequências para nossa própria vida e dos outros. A "regeneração humana", como descreve o José António, apela a uma intervenção individual e pessoal sobre esse domínio e, concordo, é aí que se começa verdadeiramente a mudar o mundo - no centro da questão, isto é, no interior de cada um de nós, sendo que cada um de nós é único responsável e o grande arquitecto da sua própria transformação.
Se por um lado fazemos parte de uma ordem natural, convenhamos, não somos tal qual os outros animais. Temos consciência da nossa inteligência, de nós próprios e daquilo que nos rodeia, inclusive, muito para além do nosso espaço e tempo. Problematizamos, discutimos e projectamos realidade ou realidades. Formamos e deformados o mundo que nos rodeia e a nós próprios. Temos ferramentas que nos permitem guardar memória e elaborar sobre ela. Temos a capacidade de antecipar o futuro, de esperar e de sonhar. É a consciência da nossa consciência que acresce o nosso poder de intervenção dentro e fora de nós. O nosso sistema nervoso central, a nossa mente, e todas as nossas habilidades para observar, registar, pensar, problematizar e sistematizar conferem-nos características e particularidades que nos diferenciam das outras espécies. A nossa maior maravilha - a possibilidade de indagar e conhecer - serve qualquer propósito, seja ele criar ou destruir. Neste sentido, o exercício da liberdade é tão só o livre arbitrium que assiste cada a escolha.
Nenhum outro animal pode criar ou destruir tanto quanto nós. Somos conscientes do nosso poder. Temos o dom do conhecimento, que não sendo bom nem mau, permite-nos, consoante as nossas escolhas, criar ou destruir. O conhecimento fica na antecâmara da sabedoria e, aí sim, em consciência-consciente podemos dar-nos conta, sem pruridos, do nosso poder e usá-lo independentemente do Direito vigente. A responsabilidade é parceira da liberdade. A responsabilidade é, por isso, indissociável da escolha e a escolha está intimamente relacionada com a consciência que temos daquilo que sabemos e podemos fazer. É por isso que a minha esperança é imortal - é inevitável que não tenhamos individualmente ou em grupo que depararmo-nos com o resultados das nossas escolhas. Não aspiro mudar o mundo, mas sei que posso transformar o meu próprio. Quer o perceba, quer não, as minhas escolhas (pensamentos, sentimentos, palavras e acções) ditam rumo da minha vida e interferem na vida daqueles que me rodeiam. Essa consciência responsabiliza-me, antes de mais, por mim, mas também pela marca que deixo no outro.
Concordo inteiramente com a observação da Teresa Durães, quando refere a violência que rege as leis da natureza. Mas, não posso deixar de dizer que, se nos comportássemos de tal forma, ainda assim, seríamos menos destrutivos do que temos sido até aqui. Os animais matam e de deixam morrer por imperativos de sobrevivência. Mas nenhum seria ou é capaz de destruir um floresta inteira por vingança, inveja ou ganância. Nenhum animal tortura e se regozija por isso. Nenhum animal seria capaz de, a pretexto de altíssimos valores, (que na minha opinião nada mais são do que egoísmo ou apego) prolongar artificialmente a vida de outrem, mesmo que esta seja apenas e só sofrimento. Da mesma forma que é capaz de sacrificar, verifica-se que um animal é igualmente capaz de defender as suas crias e o grupo. Até hoje, nenhuma zebra, por exemplo, fez escravas as suas companheiras para enriquecer. Nenhuma gazela criou latifúndios de vegetação, para vender depois no mercado da selva, a preço inflacionado. Nenhum leão dominante, que tenha morto as crias de um leão velho e vencido, desatou a matar a despropósito outros clãs de felinos. A luta pela sobrevivência regula-se por comportamentos brutais, mas limitados pela necessidade e capacidade destrutiva, muitíssimo menor do que a humana. O mesmo não podemos dizer sobre os motivos do (ainda pouco) humano Homo Sapiens, entre eles a ganância, o ódio, a inveja, a vingança ou o desprezo pelo outro.
O Direito é uma necessidade. Quanto mais não seja, só por isso, por ser necessário, é um sinal de insuficiência. Como referiu a Raquel, se é preciso proibir, por exemplo, a criação de organizações “perigosas” à democracia (em Portugal), é porque não nos sentimos seguros, nem de nós próprios, nem dos outros. “Os seguros são para os inseguros”, disseram-me um dia, e concordo. Se tivéssemos confiança em nós e nos outros não precisaríamos deste tipo de “seguros”. Pode dizer-se: “pois, mas a natureza humana é má... o ser humano é mau por natureza”. Não acredito. Não aceito sequer. Admito que nos temos comportado muito mal, mas isso não é o mesmo que dizer "somos maus".
Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona (354-430), salvo todo o seu mérito, foi, na minha opinião, um dos mais eloquentes contribuintes para esta diabolização da natureza humana. Agostinho, antes de se entregar à contemplação, filosofia e teologia e de enveredar pela vida monástica, fez um percurso muito pouco virtuoso. Viveu uma vida mundana e muito sensual. Essa experiência foi definitiva para estruturação do moralismo que pregou. A sua vivência (que deduzo pouco ou nada terá tido que ver com o amor) resultou em concepções verdadeiramente detractoras da mensagem de Cristo. Santo Agostinho desenvolveu e vendeu muito bem a tese do pecado original e disse com todas as letras que parir um filho é um acto nojento, que a mulher traz à luz em pecado e que um recém-nascido vem conspurcado pelo acto pecaminoso e vergonhoso da concepção. Segundo Agostinho já nascemos emporcalhados e maus. Ao contrário de Cristo, que pregou sermos filhos e agentes do amor, Santo Agostinho reduziu o indivíduo a uma criatura de origem vil e vergonhosa, e voltou a pôr algemas onde Cristo semeou liberdade: na consciência daquilo que somos. Institui-se o baptismo, sob pena dos “anjinhos” irem parar ao inferno e voltámos “atrás” no processo de emancipação e dignificação da vida humana, sustentada por uma corrente de pensamento, a que não posso chamar outra coisa, se não terrorismo psicológico. É claro que, com isso, a Igreja garantiu gerações de clientela vergadas sob o medo, a vergonha e o terror da punição.
Quer tenhamos consciência disto quer não, e apesar de todos os esforços do período da Renascença, Iluminismo e Moderno ficou-nos incrustado na alma a desconfiança sobre a nossa própria natureza, sobre o papel da mulher, a vergonha do corpo, a negação do prazer e da alegria de viver. Mais: fomos castrados e inibidos do exercício da liberdade/responsabilidade individual pelo justo, natural e feliz curso da nossa vida. Está cá, até hoje, que seremos sempre culpados, que somos sobretudo imperfeitos e que, portanto, a vida, sendo má é com certeza um castigo. Que "andamos cá para sofrer", como quem expia a culpa de ser mal-nascido e fruto da imperfeição, e que devemos aceitar humildemente que nada podemos fazer por nós próprios, a não ser pagar e lamentar por sermos um erro da natureza. Em suma: desconfiamos sempre das coisas boas em nós, nos outros e da vida. As más, essas sim, são consideradas verdadeiras, naturais e, grosso modo, aceites como garantidas.
Arrogo-me o direito de contrariar tudo isto e digo: somos filhos da bondade original. Somos filhos do Amor e não do pecado e estamos impregnados, desde o princípio, não com a maldade mas com o bom em nós. Assim como acreditámos na nossa imperfeição, podemos resgatar a confiança em nós próprios. E, assim como a nossa alegada fraqueza semeou medo, desconfiança e falta de amor-próprio, o resgate da nossa bondade semeará a confiança, o amor, a compaixão e o altruísmo!
E para ti, somos filhos do pecado ou do amor?
Julgo que este post responde a todos os autores dos comentários ao post anterior e que não nomeei no texto. Agradeço a todos a vossa participação e disposição para me ler.
Obrigada!
05 maio, 2006
Anarquia ou Liberdade?
O Direito é um sinal da insuficiência da consciência humana tal como ela está, no estádio em que está. A necessidade de regrar os direitos e deveres do indivíduo, admito, desconcerta-me. Não posso deixar de me sentir desconsertada diante da necessidade de haver Cartas, Tratados e Constituições para lembrar os direitos das pessoas, dos seres. Não deixo de ficar desconcertada por verificar a indispensabilidade de um papel para fixar que o direito à Vida é imperioso, de que as crianças têm o direito de serem amadas ou de que os animais devem ser tratados com respeito.
Reconheço a necessidade de todos estes compêndios de advertência, fixação e veiculação dos direitos e deveres dos indivíduos. Contudo, não deixa de ser desolador constatar que é preciso haver leis que têm de funcionar como lembretes e ao mesmo tempo como dissuasores ou ameaças: não mates, ok? Não roubes, que é feio! Não maltrates, que não é justo! Ou então... bem, serás ser punido com...
Entendo a anarquia não como uma rebaldaria ou ausência de Lei, mas como o exercício da Grande Liberdade. Curiosamente, o Islão (que não é o bicho papão que o Ocidente pinta) continua à espera do Íman, do profeta que libertará seu povo do Livro. O Íman será revelado por Deus e, um dia, quando o Homem for capaz, deixará de precisar desse mesmo Livro para regrar a sua conduta!
Pode ser uma questão de fé, pode chamar-se-lhe utopia, mas acredito: um dia não precisaremos do Direito... bastar-nos-à a nossa Consciência!
A Natureza precisa do Direito? Não!
A Natureza e o Cosmos, e inclusive, o nosso próprio corpo respondem a uma ordem intrínseca que regula per se o seu justo funcionamento. E ninguém pode negar que, sem a intervenção humana, a Natureza retomaria a sua harmonia original.
Esta é a minha anarquia - a da liberdade fundada na Consciência! E repito, tal como escreveu Elisa Lucinda e declamou Ana Carolina: “Minha esperança é imortal... imortal! Sei que não vai dar para mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar para mudar o final!”
E tu, no que acreditas?
04 maio, 2006
"minha esperança é imortal"
foto daqui
só de sacanagem é um poema de Elisa Lucinda, falado por Ana Carolina.
(Não conhecia nenhuma das duas)
Ouvi este poema por sugestão de Lâmina d'Água a propósito disto, e agradeço.
Obrigada! Muito obrigada!
03 maio, 2006
notícia de última hora
UNICEF apela a uma mudança de atitude por parte das potências mundiais
Quase seis milhões de crianças morrem todos os anos devido à fome ou à subnutrição. São números negros divulgados ontem pela UNICEF, que pede às potências mundiais uma mudança de atitude para que seja possível diminuir a mortalidade infantil em todo o Mundo.
03-05-2006 10:24, sic online
Foi através daqui, da ONE, que começou este pequeno gesto de solidariedade para com os povos mais desfavorecidos. E foi através desta Senhora, de nome Maria Árvore, a quem roubei esta frase, que vos dou a ler o seguinte:"Banco Alimentar Contra a Fome", que todos os dias ajuda a colmatar a pobreza e a fome em Portugal e que já a 6 e 7 de Maio próximo estará num supermercado próximo de si, ou então, a APAV – Associação de Apoio à Vítima por apoiar as vítimas de todos os tipos de crimes .Já agora, que não custa nada, passem por aqui se faz favor, e apoiem a velhinha UNICEF, que continua muito coerente com os seus princípios básicos. Ela agradece.Obrigado!
Segui a corrente dando as mãos a:
Jorge Moreira
Ruth Iara
Greentea
visitar The Hunger Site
visitar UNICEF
Deixo o desafio em aberto! Quem vier virá por bem! Obrigada!
02 maio, 2006
O tesouro
Sobre a matéria prima ou quinta essência
“Essa coisa é de ti mesmo que é necessário extrai-la, pois tu és a mina. Foi em ti que Deus criou essa coisa tão notável e, seja qual for o lugar onde estejas, ela está dentro de ti e não te poderá ser arrancada”
Morienus
O tesouro está em ti... o teu caminho traça o mapa, e não o contrário. Segue o teu coração, sede da verdade. Nele reside o Olho - a tua consciência-consciente que vê ... Cada verdade que despertares em ti é uma pepita de ouro do teu baú.
27 abril, 2006
prece
Que eu caminhe sobre as águas celestes,
Que eu honre o brilho do sol,
Como luz do meu Olho...
Eu sou o Grande Deus,
Vindo à existência por si mesmo,
Eu componho os meus nomes,
Ontem pertence-me,
Eu conheço o amanhã,
Eu sou a Fénix,
Não há impureza em mim,
Eu conheço o caminho,
Eu vou para a ilha dos justos,
Eu chego ao país de luz,
Eu reconstituo o Olho,
Eu vejo a luz...
Eu sou um desses espíritos
Que habitam a Luz,
Que o próprio Áton criou,
Que vieram à existência,
Da raiz do seu Olho.
Eu sou uma dessas serpentes
Que criou o Olho do Mestre Único.
Eu crio o Verbo,
Eu resido no meu Olho.
Livro dos Mortos, cap. 64, 17, 78.
26 abril, 2006
soukha
No budismo, o termo soukha designa um estado de bem-estar que nasce de um espírito excepcionalmente são e sereno. É uma qualidade que contém e impregna cada experiência, cada comportamento, que abrange todas as alegrias e todas as penas. Uma tão profunda felicidade que “nada poderia alterar, como as grandes águas calmas sobre a tempestade”. É também um estado de sabedoria, livre de venenos mentais e de conhecimento, livre de cegueira sobre a verdadeira natureza das coisas.
É interessante observar que os termos sânscritos soukha e ananda, geralmente traduzidos, à falta de melhor, por “felicidade” e “alegria”, não têm verdadeiramente equivalentes nas línguas ocidentais. A expressão “bem-estar” seria o equivalente mais aproximado do conceito de soukha, se esta palavra não tivesse perdido a força para não designar mais do que um conforto exterior e um sentimento de contentamento bastante superficiais. Quanto ao termo ananda, ainda mais do que alegria, designa a irradiação do soukha, que ilumina de felicidade o instante presente e se perpetua no instante seguinte até formar um continuum a que se poderia chamar “alegria de viver”.
Soukha está estreitamente ligado à compreensão da maneira como funciona o nosso espírito e depende da nossa maneira de interpretar o mundo, porque se é difícil mudar este último, é, em compensação, possível transformar a maneira de o perceber.
(...) O contrário de soukha é expresso pelo termo sânscrito doukha, geralmente reduzido por sofrimento, desgraça ou mais precisamente “mal-estar”. Não define uma simples sensação desagradável, mas reflecte uma vulnerabilidade fundamental ao sofrimento, que pode ir até à falta de vontade de viver, ao sentimento de que a vida não vale a pena ser vivida dada a impossibilidade de se lhe descobrir o sentido. É o herói de Satre que em A Náusea vomita estas palavras: “Se me tivessem perguntado o que era a existência, teria respondido de boa-fé que não era nada, simplesmente uma forma de vazio (...) Éramos um monte de existências afectadas, embaraçadas consigo próprias, não tínhamos a menor razão para estar ali, nem uns nem outros, cada ser existente, confuso, vagamente inquieto, sentia-se a mais em relação aos outros. (...) Também eu estava a mais (...) Sonhava vagamente em suprimir-se, para destruir pelo menos uma dessas existências supérfluas.” O facto de se achar que o mundo seria melhor sem nós é uma causa frequente de suicídio.
Ora, por influentes que possam ser as condições exteriores, esse mal-estar, tal como o bem-estar, é essencialmente um estado íntimo. Compreender isto é o preliminar indispensável a uma vida que valha a pena ser vivida. Em que condições vai o nosso espírito minar a nossa alegria de viver, em que condições a vai alimentar?
Mudar a nossa visão do mundo não implica um optimismo ingénuo, nem uma euforia artificial destinada a compensar a adversidade. Enquanto a insatisfação e a frustração provenientes da confusão que reina no nosso espírito forem o nosso quinhão quotidiano, repetir durante todo o tempo “Sou feliz!” é um exercício tão fútil como voltar a pintar uma parede degradada. A busca da felicidade não consiste em ver a “vida cor-de-rosa”, nem em enganar-se quanto aos sofrimentos e imperfeições do mundo.
A felicidade também não é um estado de exaltação que se deva perpetuar a todo o custo, mas a eliminação de toxinas mentais como o ódio e a obsessão, que envenenam literalmente o espírito. Para tanto é necessário adquirir um melhor conhecimento da maneira como funciona este último e uma percepção mais justa da realidade.
(...) Em resumo, soukha é um estado de plenitude duradoura que se manifesta quando nos libertamos da cegueira mental e das emoções conflituosas. É também sabedoria que se permite perceber o mundo tal como ele é, sem véus nem deformações. É por fim, a alegria de caminhar para a liberdade interior e a bondade afectuosa que irradia para os outros.
in Em Defesa da Felicidade, Matthieu Ricard; Pergaminho
Mathieu Ricard é filho do filósofo francês Jean-François Revel. As suas principais credenciais científicas incluem o doutoramento em Genética Molecular, obtido no Instituto Pasteur, em Paris, e o trabalho que desenvolveu sob a direcção do Prémio Nobel François Jacob. Posteriormente abandonou a investigação científica para se tornar monge budista tibetano nos Himalaias. Desempenha as funções de secretário particular e intérprete de S.S. o Dalai Lama.
Soukha foi o nome que escolhi para este blog.
É, numa palavra, o meu caminho. É o sentido, a orientação que quero ter, ser e dar à minha vida.
Não sou budista. Sou o que eu sou e abraço todas as culturas e tradições que, pelo seu espírito universal, me proporcionam o conhecimento que considero fundamental para vencer e superar a minha própria ignorância, causa única e última de qualquer mal-estar ou infelicidade. Li este livro de coração aberto, disponível. Terminei-o com a emoção, alegria e comoção de quem recebeu uma prenda inestimável. Chorei. Chorei de alegria. Sou muito grata ao autor e à minha querida I., quem mo emprestou. Estou grata porque quem o escreveu fê-lo por amor, com amor e quem mo colocou nas mãos fê-lo da mesma forma. Amor gera amor. Ainda não escrevi nenhum livro... vou escrevendo folhas. Folhas de soukha, de mim para mim, de mim para quem queira receber. Obrigada a quem me lê e obrigada a quem me responde - tenho recebido imenso, e sei, estou mais rica. Obrigada.
Tem dia muito feliz.